sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Quixotadas curtas VII

Já há muito tempo que não lanço umas quixotadas curtas. Ora vamos lá recuperar o tempo perdido.

1. Portanto, a ver se eu entendi. Os taxistas odeiam a Uber. Acham que é concorrência desleal porque, entre outras coisas, eles têm de ter formação e a Uber (pelo menos até agora) não. E então qual é a notícia de hoje? Os taxistas propõem ao Governo subirem a bandeirada no Natal, Ano Novo e meses de Julho e de Agosto. Portanto, quando eu tenho competição feroz o que é que faço? Distancio-me subindo os preços. Isto recorda-me uma expressão: “Entregar o ouro ao bandido.” 

2. O Nobel da Literatura devia, pelo menos à semelhança de outros anos, ter sido anunciado ontem. Não foi. O comité que toma estas decisões já se pronunciou, dizendo que não há divergência nenhuma, que o que se passa é que as reuniões para a tomada de decisão começaram com atraso, blá blá, blá. À boca pequena fala-se do facto de o júri não estar bem de acordo com as ideias da nova secretária permanente, Sara Danius. Recorde-se que no ano passado, já ela assumira este cargo, quem venceu o Nobel foi Svetlana Alexievich, com livros de tipo muito diferente dos escritos pelos anteriores vencedores do prémio. Como é dito pelo Observador, “é uma jornalista ucraniana que escreve não ficção, o que muitos consideram como não sendo literatura”. De facto, na altura aquela escolha pareceu-me estranha. Nobel da Literatura devia premiar literatura e nem tudo o que se escreve o é. Pode ser muito bom na mesma, mas as características do texto literário não estão em tudo o que se escreve. Aparentemente, o anúncio do prémio foi adiado para dia 13 deste mês. Acho tudo um pouco estranho, mas gostaria que este tempo a mais servisse para que se fizesse uma escolha com sentido, ao contrário de algumas muito discutíveis feitas nos últimos anos. E que se respeite a nomenclatura “literatura”, para não acabarmos daqui a uns anos a ver o Nobel a ser entregue ao folheto da Pizza Hut ou ao Correio da Manhã.

3. Nas últimas semanas tem-se falado muito dos transportes públicos na capital. Aleluia! A degradação que o sistema de transportes públicos tem vivido nos últimos anos em Lisboa é indescritível e só quem tem de os utilizar sabe os nervos que apanha diariamente. Agora ando menos de transportes, mas ainda os utilizo e é o desespero. Durante anos utilizei diariamente dois autocarros diferentes de manhãzinha e ao final do dia e acho que perdi anos de vida. Fiz várias queixas à Carris e tinham sempre resposta na ponta da língua para justificar atrasos de quarenta a cinquenta minutos em autocarros que deviam passar de quinze em quinze (ou menos, dependendo da hora do dia). Tinha de sair de casa com grande antecedência porque basta falhar um autocarro (coisa que jamais deveria acontecer) para tudo se atrasar meia hora ou mais. Autocarros cheios e pouca frequência dos mesmos, já para não falar das carreiras que foram eliminadas e que fazem falta. A própria frequência com que passa o metropolitano de Lisboa é assustadora. Enquanto estive em Madrid invejei muito a rede de transportes deles. Mesmo em frente ao hotel onde ficámos estava uma paragem de autocarro que ligava aquela zona a outras como Atocha, Passeio del Prado e ainda outros lugares importantes da capital vizinha. A frequência com que este autocarro passava era maravilhosa. Mas acho bem que se fale neste tema porque estamos há muitos anos a aguentar e a pagar por um serviço que funciona francamente mal, principalmente porque não estamos a falar do Burkina Faso, mas de uma capital europeia e mais ainda carregada de turistas.

1 comentário:

  1. 2. Os meus conhecimentos não me permitem pronunciar-me sobre se é literatura ou não, mas lá que o Nobel 2016 foi bem alternativo, não haja dúvidas :)

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