Eis uma coisa de que me lembrei ao ler o seguinte excerto de As Aventuras de Tom Sawyer, que comecei ontem:
"Ao fim de uma hora tinha apenas uma vaga ideia geral da lição porque o seu espírito atravessava todo o campo do pensamento humano, enquanto brincava com as mãos. Mary pegou no livro para o ouvir recitar e Tom tentou desembrulhar aquela meada.
- Bem-aventurados os... os... os...
- Pobres.
- Sim pobres. Bem-aventurados os pobres... hum... hum...
- De espírito.
- De espírito. Bem-aventurados os pobres de espírito porque eles... eles...
- Se...
- Porque eles se...
- Se...
- Porque eles se... Não sei, não sei o que é.
- Serão!
- Sim, serão! Porque eles serão... porque eles serão... Bem-aventurados aqueles que serão... aqueles que... aqueles que choram porque eles serão... Serão o quê? Por que não me dizes, Mary? Por que hás de ser assim má?
- Oh, Tom, meu cabeçudo, não é para te arreliar. Não seria capaz de o fazer. Tens de ir estudar isto outra vez e não percas a coragem. Hás-de conseguir, verás, e se assim for, dou-te uma coisa bonita. Vamos, sê bom rapaz!"
Bom, aquilo de que me lembrei é que hoje esta cena não seria possível. Tom seria diagnosticado com hiperactividade e défice de atenção, passando rapidamente a tomar o famoso medicamento começado com "R" e receitado a qualquer Tom Sawyer desta vida. A seguir os testes dele passariam a ser adaptados e em vez de decorar a lição, apenas teria de responder a uma escolha múltipla sobre o tema.
Sinais dos tempos...
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