segunda-feira, 2 de março de 2015

Da fidelidade a uma marca

Geralmente, quando gosto de uma coisa, gosto a sério e as marcas não são excepção. Para tecnologias, adoro a Apple; para serviços de telecomunicações, sou a maior fã da Vodafone; para gelados, sempre a Haagen Daaz; para óleo, sempre Fula; para farinha, sempre Branca de Neve e por aí fora. Nos ténis também não era excepção e na hora de comprar uns novos era ver-me junto aos modelos da Nike. Ou via algum de que gostava, ou nem sequer comprava nada. 

Mas, descobri no último fim de semana, isto das fidelidades tem o que se lhe diga. Desde os treze ou catorze anos que os meus ténis eram sempre da Nike. Sempre. Nem punha outra hipótese. Por vezes lá procuravam que olhasse para modelos de outras marcas, mas nada. Em equipa que ganha não se mexe e, por isso, não mexia e ficava tudo como estava. Tive uns ténis da Nike que, de tão confortáveis que eram, usei até chegarem ao ponto de se desfazerem. Duraram quase dez anos, foi uma loucura. 

E assim andei, acreditando sempre que nunca mais compraria ténis que não fossem da Nike. Fui fidelíssima a esta marca durante metade da minha vida. Parece-me significativo. 

Todavia, na semana passada, passei diante da loja da Merrel em Alfragide e vi uns ténis bastante bonitos que ficaram entalados na minha memória até ao fim-de-semana seguinte. Mais ainda porque estavam a metade do preço e eles não costumam ser nada (mas mesmo nada) baratos. Bom, no Sábado, último dia de saldos, teve de ser e os ditos ténis vieram comigo para casa. Estava quebrado o encanto: havia trocado uma marca que sempre adorara por outra de que, perdoem a ignorância, apenas ouvira falar no ano passado. 

Saí da loja a pensar nisto. O que leva uma pessoa a passar metade da vida "fidelizada" a uma marca ou a um produto e a acabar por trocá-lo num determinado momento? Bom, muitas coisas. Em primeiro lugar, importa esclarecer que o facto de comprar uns Merrel não invalida que regresse à Nike. Aliás, continuo a manter dois pares de ténis desta marca desportiva e posso jurar que um destes pares é tão indestrutível que durará uns valentes cinquenta anos. Contudo, no segundo par reside parte da explicação para esta mudança que não acreditava que viesse a acontecer. 

Em dois mil e quatro comprei o tal par que usei até desfazer-se. Eram o cúmulo do conforto e, se já antes era fã da marca, depois deles tornei-me fanática. E assim, quando eles - coitaditos - começavam a não aguentar mais, comprei outro par. Impermeável, bonito, parecia o ideal para aguentar uma vida nos meus pés. E, na altura, andava bastante de ténis, por isso era porreiro. No entanto, rapidamente percebi que não eram tão confortáveis como os anteriores. Num dos natais seguintes ofereceram-me outros, daqueles a que só falta terem asas. São muito confortáveis e posso jurar que durarão anos. 

Mas depois comprei outros que, por alguma razão, não são confortáveis. E o caldo entornou. Adoro a marca, continuarei a procurar produtos Nike, mas a minha fidelidade extrema diminuiu quando passei por dois modelos que não me encheram nada o coração. Ficavam lindos nos pés, contudo, não eram tão confortáveis como outros. 

Por isso, isto das marcas é tramado. Somos muito fiéis até ao dia em que... Vem qualquer coisa que muda tudo, que nos alarga os horizontes e nos faz arriscar. No meu caso, quinze anos depois dos primeiros ténis da Nike, foram duas desilusões depois de muitos casos de sucesso. E por isso imagino o que custe às marcas trabalhar para manter os clientes. Mas, de facto, não deixa de ser curiosa a forma como seguimos quase cegamente algumas marcas e o quanto é necessário para que acabemos por olhar para outras coisas. Se no ano passado uma amiga não me tivesse dito maravilhas sobre os ténis da Merrell, provavelmente não olharia sequer para a loja e jamais ponderaria comprar um par em vez de correr à Nike mais próxima. Neste caso, uma simples conversa e uns ténis menos confortáveis foram o cocktail explosivo para a quebra de uma fidelidade que já era longa. E também convém não esquecer que, afinal, "mudam-se os temos, mudam-se as vontades". 

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