segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Num dia normal

Num dia normal vai-se à escola, tem-se aulas, sorri-se para a professora, ri-se com os colegas, escreve-se num caderno, lêem-se textos, brinca-se no recreio, fazem-se testes, recebem-se notas, trocam-se histórias, conhecem-se pessoas, muda-se um pouco a cada minuto. Num dia normal de escola faz-se tudo isto e mais aquilo que não cabe num texto destes porque é tão grande, tão importante e tão inesquecível que geralmente só o percebemos anos mais tarde, quando já só recordamos um dia de escola como alguma coisa que existiu no passado e que nos aparece como imagem desfocada de qualquer coisa que já não sabemos descrever.
 
Muito cabe num dia de escola, é certo, mas o que não cabe hoje nem nunca caberá é um tiroteio. Nem vinte e seis mortos. Nem vinte crianças para as quais não mais haverá um dia de escola. Nem as memórias de todas as outras que terão de olhar para a escola como sendo o sítio onde morreram tantas pessoas. Num dia normal não cabe um louco armado nem a dor dos que agora choram os seus.
 
Num dia normal de escola cabe muita coisa, mas não isto. Não esta dor feita ferida por amanhã não ser mais um dia de aulas, mas sim um dia de caixões brancos e de lágrimas que não secam. Uma escola não é isto, não devia ser isto, e todos vocês farão, com certeza, muita falta noutros dias normais.
 
(Este texto é para todos os alunos e professores que perderam a vida na sexta-feira às mãos de mais um louco armado numa escola do Connecticut, nos Estados Unidos da América.)

Sem comentários:

Enviar um comentário