domingo, 9 de dezembro de 2012

Escrita post mortem

Já me haviam referido a existência de um disparate na contracapa de Os Buddenbrook, de Thomas Mann, mas nunca tinha reparado em nada. Hoje, olhando distraída para as palavras impressas em fundo escuro, saltou-me aos olhos a tal tontice. Está lá escrito que «Thomas Mann iniciou a escrita do seu primeiro romance - Os Budenbrook - em 1986, com apenas 21 anos de idade, terminando-o cinco anos mais tarde.»
 
Ora bem, Thomas Mann nasceu em 1875 e morreu em 1955, tendo ganho o Prémio Nobel em 1929. Assim, a menos que tenha escrito a sua primeira obra no outro mundo, acho difícil que tenha iniciado a escrita deste enorme romance um ano depois de eu nascer e muito depois de receber o referido prémio (entregue pela sua obra, algo impossível se a data da contracapa estivesse correta). Aliás, lendo a badana do próprio livro encontramos outras informações, já que é dito que publicou Os Budenbrook em 1901. Portanto não sei no que estavam a pensar quando colocaram em lugar de destaque uma data tão impossível quanto 1986.
 
Gralhas podem sempre passar, por muita revisão que se faça e, no texto, todos fechamos os olhos a uma ou outra. Mas quando estas se encontram na capa ou quando aparecem em quantidade difícil de admitir, surge invariavelmente a questão: como é que ninguém deu por nada? Há gralhas em capas que já se tornaram famosas. Porém, antes de o serem, podem tornar-se uma dor de cabeça para os responsáveis pelo livro. Para o leitor, dependendo de onde as encontramos e da quantidade em que surgem, podem ser motivo de riso ou de valente aborrecimento. Geralmente tornam-se na segunda hipótese.

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