segunda-feira, 19 de abril de 2021

Os ensinamentos da Covid-19 I

A Covid-19 tenta, pela segunda vez, ensinar-me que quando se desconfina, mais do que ver aqueles que me são queridos, ainda que atrás da malfadada máscara, o mais importante é mesmo correr para a Primark. Vamos lá ver, quem pode neste momento recusar uma cueca nova? Quem chegou a esta fase com os pijamas em bom estado? Quem pode dar-se ao luxo de abdicar de uma qualquer quinquilharia daquelas que estão junto às caixas?! Vai que isto fecha de um dia para o outro e a pessoa não teve a oportunidade de circular pelos atafulhados metros quadrados de uma Primark?! Como é?! Estes corpinhos não aguentam mais uma desgraça. Por isso, sabendo-se que as lojas vão abrir, é correr e deixar cair as lágrimas de felicidade por regressar à presença daquelas letras luminosas e à possibilidade de trazer umas pecinhas básicas que amimalhem o ânimo exaurido pelos últimos meses de travessia no deserto das compras in loco

Porque, meus amigos, a Covid ensinou-nos muito sobre elásticos, por exemplo. Hoje todos sabemos dar uns invejáveis nós numa máscara que teima em deixar-nos de nariz ao léu. E também sabemos que o tempo de duração dos elásticos da roupa interior é cada vez mais limitado. Aliás, creio até que todos temos agora a certeza de que há um plano maquiavélico orquestrado pelas cuecas, boxers e sutiãs desta vida para nos deixarem cobertos de elásticos que pugnam pela libertação. E é por isso, caríssimos, que a Primark merece as filas quilométricas. Não se espantem com as imagens que os noticiários nos oferecem. Espantem-se, sim, se virem olhos vazios de emotivas lágrimas enquanto esperam pelo comovente momento em que se derreterão perante uma renda mais ousada, uma cueca por estrear, uma tanga com os elásticos no sítio, um sutiã que ainda, qual Dom Quixote, se sente capaz de lutar contra a gravidade, ou mesmo um pijama do Bambi sem nódoas de vinho tinto. 

E agora que partilhei convosco este tão importante ensinamento que a Covid-19 nos trouxe, vou só ali tatuar uns sete ou oito logótipos de lojas baratinhas das quais senti muita falta nos últimos meses. Deixem-me ser um catálogo com pernas ou, melhor, um mapa para o desconfinamento de sonho de qualquer consumidor empedernido. 

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