terça-feira, 23 de março de 2021

Vícios Novos

Como vocês sabem, eu tenho dois amores (como o outro): livros e gatos. Ou seja: vou bem lançada para me transformar na velha doida da praceta. Mas adiante. 

Se no que aos gatos diz respeito o número está parado em dois (apenas porque alguém não me permite mais com o péssimo argumento de que Madame Pochita vale por dois gatos), no que respeita aos livros o número cresce de mês a mês. Porém, nos últimos seis meses descobri uma nova tara que, no fundo, vai ao encontro da dos livros já que envolve leitura: assinaturas digitais de periódicos. Na verdade, jornais e revistas já compro há muito tempo. Adooooro alguns especiais da National Geographic, compro quase todos os números do Courrier Internacional que saem ao longo do ano. Mas recentemente descobri o conforto de receber tudo de forma digital, sem roubar com revistas o espaço onde posso enfiar mais uns livritos.

Começou com a New Yorker. Ofereciam um saco bem giro e a revista é fantástica. Depois essa assinatura chegou ao fim e o preço ia ficar astronómico. Cancelei-a e assinei o Expresso. Depois o El País. E o Público. E o The New York Times (boooom). E tenciono em breve assinar o Courrier Internacional porque os números antigos pululam por aqui e tenho pena de me livrar deles. Assim fico com acesso aos números antigos sem encher mais a casa. Além disso, a assinatura sai mais barata do que a compra de cada número em papel.

E perguntam vocês: jovem, como raio lês isso tudo? Pois, olhem, vou lendo. O Expresso ao sábado. O El País vou lendo, sem deixar passar o suplemento Babelia e a Revista Semanal, ao domingo. No Público leio as notícias que me interessam (sem me cortarem os artigos a meio) e o que no Ipsílon vai saindo sobre livros e viagens. No The New York Times gosto dos artigos que vão saindo sobre livros, gosto das críticas, das listas de best-sellers, e adoro o podcast. Da New Yorker acho que nem preciso de falar. A revista é um espanto do início ao fim e aborda temas muito interessantes que vão da política à literatura, passando por questões sociais atuais. O Courrier Internacional é um amor antigo que permite ler sobre assuntos que jamais me passariam pela cabeça. Das eleições na Índia às lutas tecnológicas, das conquistas da ciência à ascensão da extrema-direita, das tiranias na Arábia Saudita às tentaculares redes sociais, das fragilidades nas fronteiras aos direitos das mulheres em diferentes países: os temas são muitos e variados. O editorial é sempre apetitoso e esclarecedor. É, de facto, uma revista que vale a pena.

Portanto é isto. Além dos livros, que continuo a ler em papel e no Kindle, agora tenho os periódicos que me caem no tablet diaria ou semanalmente. O valor em assinaturas não é tão alto quanto possam pensar. Assino quando, de facto, é um jornal ou revista que me interessa, mas aproveito as promoções. Há sempre promoções a decorrer. Por exemplo: o The New York Times custa-me $1 a cada quatro semanas durante o próximo ano. Muito pouco, já que em euros gastarei uns treze durante um ano. Com o Expresso, depois de ter aproveitado outras promoções, renovei a assinatura com a promoção de aniversário do jornal: 48 edições por 48 euros. Portanto, um euro por semana durante praticamente um ano. Bons negócios.

No fim de contas, há algo que importa ter em conta: todos gostamos de ler notícias e todos gostamos de estar informados (hoje talvez mais do que nunca), mas somos poucos os que compramos ou assinamos periódicos, permitindo a sobrevivência do jornalismo. Do bom jornalismo, sobretudo. Nunca fez tanta falta a informação rigorosa, mas também nunca gastámos tão pouco em jornais. Existem, inclusivamente, almas que trocam diariamente pelo WhatsApp pdf’s com os jornais diários na sua versão integral. E acham perfeitamente normal e salutar fazê-lo. Não é e era bom que essas criaturas o percebessem. Os jornalistas lidam diariamente com dificuldades imensas. Redações quase vazias, quebras na publicidade, críticas tantas vezes injustas que atribuem a estes profissionais as culpas pelos males do mundo, pressões várias... contudo, vão continuando a fazer sair para as bancas as notícias que nos ajudam a pensar, a conhecer, querer saber mais. Se pagamos por tantas coisas, talvez algumas tão pouco necessárias, porque não pagamos pelas notícias que lemos? Todos gostamos de receber o nosso salário no final do mês. Pois pasmem-se: os jornalistas também.

Portanto é isto: livros, gatos e jornais/revistas. Daqui a uns quarenta anos, por favor, venham cá a casa ver se estou bem. Se eu não abrir a porta, é porque já fui devorada pelos gatos ou porque fiquei subterrada debaixo de uma pilha de livros que me caiu em cima. As probabilidades de que tal aconteça parecem-me altíssimas.

3 comentários:

  1. Adorava ver uma foto da tua biblioteca, deve ser magnífica! Há duas semanas comprei a Divina Comédia, que grande pecado ainda não ter tal clássico. Gosto de te ver de volta.

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    1. O meu próprio blogue não me deixa responder aos comentários.
      Tentativa #342

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  2. Bom, posso pensar em partilhar umas estantes. Também adoro ver estantes cheias de livros. Acho que é meio reconfortante.
    Ah, a Divina Comédia! Tenho, mas não li. Acho que o vou deixar para a reforma porque me parece daquelas leituras que vão precisar de muito tempo.
    Obrigada! :)
    As Minhas Quixotadas

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