quinta-feira, 22 de junho de 2017

Memorial de desparasitação dos gatos

Mês sim mês não lá vem o momento de desparasitar os felinos cá de casa. Este mês coincide com a desparasitação dos donos também*. Todo um acontecimento, portanto. O problema é que desparasitar o Senhor Gato implica uma estratégia aprimorada ao longo dos anos. Ele é lindo e muito meiguinho, mas não suporta sentir-se agarrado ou preso de alguma maneira. Desparasitá-lo está, em dificuldade, quase ao nível daquela maratona que se faz no deserto. Pior só mesmo dar-lhe um comprimido. Aí só me apetece chorar e encomendar a alma ao Criador.

Inicialmente, sem a tal estratégia, limitávamo-nos a segurá-lo enquanto ele se tentava soltar. A pipeta parecia não ter fim e os nossos nervos ficavam esfrangalhados. Já a Gatica é uma santa: basta pegar-lhe ao colo enquanto o outro despeja a pipeta no cachaço. Paralisa de medo e permite tudo, a pobrezinha.

Assim, desenvolvemos um método que hoje vos revelarei. Duvido que alguém precise de passar por este tormento, mas se der jeito a alguém, melhor. Tudo começa com uma lata de atum ao natural (embora aqui eu e o outro dono discordemos relativamente à ordem dos acontecimentos porque eu preferia que a Gatica fosse desparasitada antes da emoção do atum). Abre-se a lata e despeja-se metade em cada pratinho. Colocam-se os pratitos no chão e permite-se aos felinos que comecem a comer. Quando o Senhor Gato já está a sentir-se no paraíso felino e a lamber-se todo com atum, o dono começa a fazer-lhe umas festas e a separar-lhe o pêlo na zona do cachaço de maneira a deixar pele à mostra. O bicho vai desconfiando e o dono pára e põe-se a olhar para o tecto (como se o gato interpretasse isso como «Ah, afinal ele não está a meter-se comigo: está só a admirar o candeeiro. Posso comer descansado.»). O gato torna ao prato e o dono torna a proceder à separação do pêlo. Quando a coisa está a jeito, pimba: começa-se a descarregar a pipeta. Conforme o gato vai parando de comer e olhando para o dono, este também pára e torna a olhar para o tecto, enquanto esconde a pipeta atrás das costas. A dança segue até que esta fique vazia e o gato devidamente untado.

A seguir passa-se à Gatica, que só precisa de colinho porque é um doce e deixa que lhe façam tudo. Por isso é que eu defendo que ela seja a primeira, para depois comer o merecido atum sem interrupções, como se fosse uma compensação pela paciência que tem.

Bom, é este o extenso memorial da desparasitação felina. É uma actividade que vivemos no limite do perigo. O Senhor Gato transforma estas coisas numa aventura. O mais curioso é que, simultaneamente, é mesmo o gato mais meigo e doce que conheço. Não há animal mais apegado aos donos do que este. Contudo, pegar-lhe ou agarrá-lo é impossível. Bem, não se pode ser perfeito, não é verdade?


*Todas as pessoas, donas de animais ou não, deviam desparasitar-se uma vez por ano. Nós fazêmo-lo agora, no verão, todos os anos pela mesma altura, fazendo coincidir a desparasitação deles com a nossa para evitar novos contágios que pudessem existir. Mas é importante que todos tenham consciência disto: qualquer pessoa deve desparasitar-se uma vez por ano. Perguntem aos vossos médicos e farmacêuticos. Não custa nada. É só um comprimido de toma única que não tem efeitos secundários e que pode ser tomado a qualquer hora.

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