segunda-feira, 3 de abril de 2017

Missão Soninho

No sábado tivemos uma festa cá em casa e a sua preparação foi tão trabalhosa que eu, pessoa pouco dada ao sono e que acorda geralmente bastante cedo, dormi dezoito horas e meia entre a meia-noite e as nove da noite de domingo. Basicamente só acordei para ajudar a dar cabo dos restos que nos povoam o frigorífico. 

Isto foi o mais perto da hibernação que já estive. Compreendi melhor os ursos e desenvolvi até um sentimento fofinho de solidariedade por aqueles peludos gigantes que se retiram do mundo para passarem o tempo a dormir. Eu fiz o mesmo este domingo e soube-me pela vida. Mais ainda se considerarmos que não sou muito dada ao sono; que raramente o sinto; que chego a acordar às cinco da manhã prontinha para começar o dia (o problema é que a meio da manhã acaba-se-me a pilha); que tenho um sono muito perturbado por sonhos e por pesadelos, lembrando-me sempre daquilo com que sonhei; que não "desligo" verdadeiramente durante o sono, chegando a dar por mim a pensar e a ter ideias enquanto durmo. Nunca fui dorminhoca, nem em pequenina. Sempre me levantei cedo sem dramas. Mas também sempre achei que perdíamos demasiado tempo a dormir e que esse tempo seria óptimo se fosse passado a fazer outras coisas. Mesmo pensando assim, dormia. Sonhando sempre, lembrando sempre na manhã seguinte aquilo com que sonhara, acordando cansada por nunca ter "desligado" verdadeiramente. Mas dormia. O problema maior surgiu talvez uns dois anos antes de despedir-me. A pressão era tanta, o volume de trabalho tão insano que a qualidade do meu sono veio por aí abaixo até me deixar à beira das lágrimas quase todos os dias. Eu deitava-me cedíssimo para aproveitar a noite, já que acordava pouco depois das seis, mas acordava de madrugada e não conseguia dormir mais porque inevitavelmente começava a pensar em trabalho e no que tinha para fazer, nos prazos para isto e para aquilo... Até que chegavam as seis da manhã e, se fosse preciso, a minha cabeça já estava a trabalhar havia quase duas horas. Pior: teria de continuar a trabalhar até ao final do dia e, se fosse dia de reuniões ou de eventos idiotas marcados em cima do joelho pela instituição, esse final do dia poderia ser às oito da noite. Imaginem isto durante dois anos, sensivelmente. Não mata, mas mói. E os fins de semana não serviam para recuperar porque havia sempre muito para fazer, inclusivamente coisas relacionadas com o trabalho. O sono foi ficando cada vez mais para trás. Cheguei a um ponto em que o via como um luxo a que achava que não tinha direito. Por isso, estes últimos meses também têm sido de aprendizagem nessa área. Continuo a achar que o tempo que passamos a dormir dava jeito para fazer tantas outras coisas... Mas claro que estes anos de inferno me ensinaram que sem dormir (e bem) nada se faz. Assim, dias como este em que a ocupação foi dormir, coisa rara na minha vida, são fundamentais. Tenho anos de sono em atraso. Preciso de recuperá-los. Hoje dei um avanço de quase dezanove horas a essa "Missão Soninho". Boa! 

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