"Quando [Gastão Cruz] conheceu Ramos Rosa, foi a primeira vez que entrou na casa de alguém e viu torres de livros, uma biblioteca que não estava circunscrita, que era como a própria casa, para ser vivida em todas as divisões, a toda a hora. Era uma biblioteca parecida com a que Gastão Cruz tem hoje, e a uma longa distância da que foi a biblioteca do seu pai, com os clássicos portugueses e alguns poetas algarvios.” (Público, 5 de Abril de 2015)
Quem como eu convive com várias centenas de livros sabe o que é isto da falta de fronteiras, da biblioteca que se vive em todas as divisões, da paisagem de papel que se encontra para onde quer que se olhe. E quem, como eu, já não concebe uma casa que não seja assim, sabe que dificilmente poderá estar, respirar, viver sob um tecto onde não se abriguem personagens, histórias, poemas, peças, mil mundos de papel. Gosto da falta de fronteiras dos meus livros. Gosto de tropeçar num livro novo a qualquer hora, abri-lo e folheá-lo. Gosto muito das possibilidades que me surgem sempre que termino a leitura de um livro, sem ter de contar pelos dedos da mão as hipóteses de textos por ler que me restam rm casa. Gosto bastante da certeza de que mesmo que um dia não possa comprar livros, tê-los-ei agora em número suficiente para ter sempre algo de novo para ler. Por isso não me importo nada que se alastrem pela casa, que fujam das prateleiras para as mesas, das mesas para o chão, do chão para as varandas. Só não gosto que se escondam de mim. Quero-os sempre por perto, compondo uma casa que passa a parecer ela própria uma história feita de livros.
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