segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Dúvidas que me assolam VI

Tenho uma dúvida que só não me tira o sono porque Lady Gatica se encarrega de perturbar as minhas noites. Ora, a minha questão é simples: haverá alguma relação entre o cheiro do interior de um carro e a necessidade de o seu condutor escarafunchar o nariz até o deixar devidamente rapadinho de toda e qualquer impureza presente nas cavidades nasais? Leia-se: o facto de se estar num carro provoca a súbita necessidade de «tirar macacos» do nariz? É que a quantidade de almas que se vêem ao volante a coçar o cérebro é de tal modo significativa que só pode haver uma ligação entre a condução de automóveis e a urgência da higiene nasal.

Num destes dias, enquanto passava a Madame Pochita, vi uma alma ao volante de um pomposo BMW limpar o nariz com tal convicção que cheguei a pensar que aquele dedo indicador iria vomitar de tanto que rodopiou pelas cavidades nasais. Aliás, se limpar a penca a fizesse crescer, o senhor teria um verdadeiro poste no meio da cara. E se o crescimento fosse repentino, levava-me o cão e tudo. Pois ali estava aquela criatura, bem sentada num carrão de sonho a fazer algo tão nojento quanto procurar tesouros peganhentos no interior da narigueta. É que tanta veemência só se pode justificar com o desejo de encontrar algo valioso. Aquele tipo aplicou-se o suficiente para encontrar petróleo dentro de si mesmo. 

Agora, as minhas dúvidas não ficam por aqui e a nojice vai continuar, pelo que aviso os mais sensíveis de que devem parar de ler agora (se não pararam até agora, são os meus heróis porque até eu, a escrever esta caca, estou com o estômago embrulhado). A minha dúvida maior é: onde põem eles o produto da sua caça ao tesouro? Nos estofos? Bom, se forem em pele se calhar a coisa nem cola. No volante? Bom, isso deve ser o equivalente javardo à lei do eterno retorno: colas agora, mais tarde colar-se-á a ti. Atiram pela janela? É possível, embora o tipo que vi tenha estado sempre de vidros fechados enquanto eu passeava o cão. E, provavelmente, estes queridos acham que estando dentro dos carros passam a ser invisíveis porque só isso explica o à-vontade com que procedem a tal actividade, como se fosse a coisa mais sociavelmente aceite do mundo e arredores. Aliás, como se fosse coisa que todos fizessemos diante uns dos outros. Qualquer semelhança com primatas no habitat natural não é, repito NÃO É, pura coincidência. Há ali qualquer coisa de macaco, com o perdão destes últimos. Pois, senhores, a menos que os vidros sejam fumados, uma pessoa não fica invisível quando bota o dedo no nariz. Diria até que se torna mais passível de ser observada, pelas razões óbvias e que passam pelo facto de se estar a fazer em público uma coisa javarda o suficiente para chamar a atenção de quem passa. A propósito, senhor do BMW, eu e o meu cão não estávamos a admirar o seu carro de alta cilindrada: estávamos a ver o nível do óleo do seu nariz e até onde chegava a «vareta» que é o seu dedo. Se houvesse um pódio, acredito que estivesse lá, com uma medalha de ouro bem luzidia e coroado com a devida coroa de moncos. Um verdadeiro príncipe da ranhoca! Já vi ficar-se conhecido por menos. Qualquer dia vai ao Goucha contar a proeza.

Mais: estas almas lavarão as mãos no fim do acto? Não, a menos que tragam consigo uma garrafinha de água e um sabonete ou algo equivalente. O que quer dizer que andam a espalhar gosma pelo mundo até aquelas patas verem água. Quando penso nisto, a germofóbica que há em mim (e que ocupa cada vez mais espaço do meu ser) não deixa de constatar que o melhor é não tocar noutros seres humanos porque, de facto, nunca se sabe. Além disso, a mesma germofóbia congratula-se por trazer sempre consigo toalhitas humedecidas e desinfectante de mãos igual ao que havia na unidade de cuidados intensivos onde o meu pai esteve internado.

Bom, a verdade é que todas estas dúvidas me consomem os nervos e eu preciso de saber. Desculpem a quixotada nojenta, mas certamente todos vocês já viram alguém tentar, à maneira faraónica, catar o cérebro pelo nariz enquanto se encontra dans la voiture. Se conseguirem explicar-me a relação entre a acção de conduzir e a reacção de tirar macacos, fico-vos agradecida. É que eu não percebo. Só sei que tenho um nojo do caraças.

1 comentário:

  1. Só me lembrei de Joachim Löw, treinador da selecção alemã. Não havia jogo em que o senhor não esgaravatasse. Em directo e ao vivo...

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