terça-feira, 8 de maio de 2018

O destino do ratinho

Os felinos cá de casa têm mais brinquedos do que o Toys’r’us na sua época áurea. Entre bolinhas, canas e ratinhos, há cá de tudo. Sem contar que, além do que foi projectado para ser o brinquedo de um gato, eles adoptam rolhas de cortiça, os ovinhos interiores dos Kinder Surpresa e quaisquer bolas de papel amassado como entretenimentos de grande potencial. 

Ora, os dois torpedos peludos cá do sítio têm uma caixinha no escritório onde se amontoam os seus brinquedinhos. Volta e meia lá se lembram de ir buscar um para transformá-lo no brinquedo do momento. Há alguns dias, o escolhido foi um ratinho branco que chia quando é tocado. E nós sabemos bem o que os gatos fazem aos ratinhos...

Estava eu na cama quando, subitamente, começo a ouvir um chiado incessante. Levanto-me e vejo o Senhor Gato especado a olhar para o tal ratinho que, qual drama queen, desatou a chiar e não queria parar. Peguei no maldito rato, abanei-o um bocado, dei-lhe dois estalos e ele lá se calou. Paz no mundo, voltei para a cama. 

Estava eu posta em descanso naquele momento da noite em que já estamos a ir com tudo para os braços de Morfeu quando, mais uma vez, o ratinho dos infernos desata numa chiadeira desgraçada como se o estivessem a matar. Com o pormenor, ressalve-se, de que naquele momento até os felinos já estavam a dormir... É, portanto, um ratinho com a mania da perseguição. Perante isto, levantei-me, fui ao escritório, peguei no roedor possuído e abanei-o. Não se calou. Dei-lhe estalos. Não se calou. Atirei-o ao chão. Não se calou. Pontapeei-o. Nada. Ponderei atirá-lo pela janela. Ele lá deve ter lido os pensamentos e resolveu salvar a vida, calando-se. Mas agora o que havia de fazer ao desalmado bicho? Deixá-lo no escritório não porque já não estava para levantar-me mais vezes. Decidi então levá-lo comigo para o quarto. Ele ainda chiou duas ou três vezes, mas umas palmadas extra acabaram por calá-lo. Arrumei com ele para a última gaveta da minha mesa de cabeceira. 

Porém, se pensam que isto lhe serviu de emenda, enganam-se. Ele continua hipersensível. Se pouso alguma coisa sobre a mesa de cabeceira, ouve-se um chiado. Se abro a gaveta, é toda uma ópera roedora que se faz ouvir, se limpo o pó a esse móvel, o ratinho grita por socorro. Se tivesse uma machadinha já o tinha guilhotinado, mas o bicho lá vai sobrevivendo e eu tenho pena de privar os felinos de um dos seus mais fofos brinquedos. Mas não escondo que é difícil ter um ratinho com verborreia em casa. Mesmo na  gaveta o tipo tem muito para dizer. Por isso, por lá ficará até que aprenda a falar só quando um gato lhe der uma patada. Entretanto, a minha mesa de cabeceira fica com um novo sensor de movimento e chia quando lhe tocam. Original, não? Nem o IKEA se lembraria desta. 

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