segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Um clássico é sempre um clássico

Tenho andado a ler o romance Anna Karenina, de Lev Tólstoi, e só me ocorre o do costume: um clássico é sempre um clássico. A frase é estúpida todos os dias, mas reflecte mais ou menos o meu estado boquiaberto perante a perfeição da escrita e da história narrada. Este tipo de mestria encontra-se (quase) sempre nos clássicos e é por isso que se torna tão seguro escolher estes livros antes de outros. Primeiro porque é nossa obrigação conhecer o que de melhor já foi feito e que, hoje em dia, faz parte da nossa identidade (seja nacional, seja europeia...). Em segundo lugar, devemos ler os clássicos porque se eles receberam esse rótulo foi porque tiveram a capacidade de sobreviver à passagem do tempo e ao escrutínio dos inúmeros leitores que já lhes percorreram as páginas.

Num mundo onde há todos os dias mais uns milhões de páginas para ler, é fácil deixar alguma coisa para trás. No entanto, é importante que não deixemos para trás o que de melhor já se fez. O que é tão bom que se conhece já ainda antes de ser lido. A propósito disto, ontem lia um artigo sobre o clássico Alice no País das Maravilhas e o autor dizia algo como que a sua leitura já não acontece muito porque todos já sabem o que por lá se passa. Até percebo uma parte da ideia, já que a ideia base de cada clássico é conhecida por todos (muitos podem não ter lido o Quixote, mas sabem que há um tipo que anda para aí a lutar contra moinhos porque se julga cavaleiro andante: é algo que é do domínio comum). Mas julgar que já não vale a pena ler porque já se conhecem vários elementos do enredo vai além do que me parece ignorância. É, sobretudo, redutor daquilo que é um livro. Um livro, e concretamente um clássico, não é apenas a sua acção central. É também as acções secundárias, as suas personagens, os ambientes que descreve, o modo como os descreve, a perfeição da escrita e das imagens criadas, os valores que veicula... Um clássico é sempre um clássico e pronto. É o que de melhor podemos ler. Com a Anna Karenina tenho recordado muito isto e, portanto, aconselho a todos a sua leitura. É Tólstoi e ele não nos falha.


Actriz Sophie Marceau, protagonista numa das adaptações cinematográficas que se fez de Anna Karenina.
A imagem saiu daqui.

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