sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Ler no metro de Madrid



Em Madrid apercebi-me de uma iniciativa maravilhosa: espalhadas pelas carruagens do metro havia vários posters com excertos de livros, fossem eles de narrativa, poesia ou mesmo texto dramático. Tendo em consideração que os lugares disponíveis não são tantos quantos os do metropolitano de Lisboa, ir de pé é algo bastante possível de acontecer. Nessas circunstâncias em que não é muito fácil saber para onde olhar e o que fazer, ter ali à mão alguma coisa para ler dá jeito. Ora, numa das muitas viagens que fiz nesse meio de transporte, deparei-me com um poema que adorei e que não conhecia. Chama-se “El desayuno” e é de Luis Alberto de Cuenca. É o que está na foto que tirei do poster do metro, mas deixo-vo-lo no final da quixotada para que possam conhecê-lo também. Acho a iniciativa absolutamente espantosa porque assim como me aconteceu ficar deslumbrada por um poema que li numa carruagem do metro, num “não lugar” tão desinteressante como aquele, o mesmo poderá acontecer a outros, chamando-os para a leitura ou para o conhecimento de autores ou de géneros que não são os que costumam ler.

A propósito: nunca tinha visto tanta gente a ler num transporte público quanto no metro de Madrid. Livros em papel ou leitores de ebooks, eram muitas as pessoas que liam durante as suas viagens. Aliás, nunca tinha visto tantos leitores de ebooks a serem utilizados. Parece-me que a adesão dos madrilenos aos Kindles, Kobos e quejandos é bastante evidente. Mas mais feliz fico pelo gosto pela leitura que ali se vê. Talvez até mais do que Madrid, Lisboa também precisasse de literatura nas paredes do metropolitano. Ver alguém com um livro no metro de Lisboa não é difícil, mas ver tantas pessoas a ler ao mesmo tempo como vi na capital espanhola seria um milagre. Ora, nós precisamos muito desse milagre. Far-nos-ia um bem imenso.

El desayuno

Me gustas cuando dices tonterías,
cuando metes la pata, cuando mientes,
cuando te vas de compras con tu madre
y llego tarde al cine por tu culpa.
Me gustas más cuando es mi cumpleaños
y me cubres de besos y de tartas,
o cuando eres feliz y se te nota,
o cuando eres genial con una frase
que lo resume todo, o cuando ríes
(tu risa es una ducha en el infierno),
o cuando me perdonas un olvido.
Pero aún me gustas más, tanto que casi
no puedo resistir lo que me gustas,
cuando, llena de vida, te despiertas
y lo primero que haces es decirme:
“Tengo un hambre feroz esta mañana.
Voy a empezar contigo el desayuno."

Luis Alberto Cuenca

3 comentários:

  1. Acho uma ideia fantástica, esses posters nos transportes públicos. Pode fazer a diferença num trajecto relativamente mais curto (normalmente, nos trajectos longos, o pessoal leva alguma coisa para se entreter, nem que seja um ponto de cruz =P ).
    Pelas opiniões de várias pessoas, aqui comprovadas, parece-me que Espanha é um país que investe muito mais na sua cultura que o nosso. E eu considero isso muito importante. Ver alguém a ler nos transportes é quase como ver um livro recomendar uma pessoa =)
    ***

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    1. Bela frase: "Ver alguém a ler nos transportes é quase como ver um livro recomendar uma pessoa.". Gostei! :)

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