domingo, 1 de fevereiro de 2015

Salman Rushdie

Estando sensivelmente a meio da leitura de Joseph Anton, a autobiografia de Salman Rushdie deixem-me dizer o seguinte: como é possível que nos anos finais do século XX tenha parecido normal a alguém que, devido a um texto literário, uma pessoa tenha sido constantemente ameaçada de morte, tendo de viver escondida durante longos e desesperantes anos? E como é possível que tão pouco tenha sido feito pelo governo do país que publicou primeiramente o livro condenado? Portanto, alguém escreve um texto literário, outros interpretam-no como blasfémia e, de seguida, alguém tido como uma referência para uns quantos determina que o autor de tal afronta deve ser assassinado e que qualquer um que consiga executá-lo deve fazê-lo. Posto isto, para sobreviver, o escritor passa a viver uma existência nómada, saltando de casa em casa (casas essas que tem de ser ele a encontrar e pagar, contando apenas com a protecção da polícia britânica), sempre com o receio de ser encontrado e de que a ameaça se concretizasse. Bonito.
 
Ainda só vou a meio e sinto-me em choque porque tudo aquilo não foi assim há tanto tempo e porque, infelizmente, parece que tudo se está a repetir. Aconteceu há pouco tempo com o ataque ao Charlie Hebdo. Levantaram-se as típicas vozes que dizem que a liberdade de expressão tem limites... E assim caminhamos alegremente, como diria o nosso Eça, para uma gritaria em que ninguém se entende, mas onde impera o medo porque alguns encontram limites, mas estes são diferentes consoante o entendimento de cada um e, no fim de contas, já não há liberdade nenhuma. É assustador.

2 comentários:

  1. Li o livro mal saiu e é de facto incrível tudo o que o fizeram passar.
    A meu ver, a 1ª parte é bem melhor que a 2ª mas ainda assim é bastante bom.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A mim chocam-me várias coisas, mas sobretudo a inércia do governo britânico.

      Eliminar