Estava a ler um artigo do El País sobre livros com temas difíceis que vale a pena ler e fiquei a pensar que, de facto, são muitas vezes esses livros duros, crus, terríveis que nos ficam na memória. Mais até do que o que é divertido ou leve, são as vivências duras das personagens que nos marcam. O sofrimento é intemporal (basta ver que a tragédia era considerada superior à comédia em tempos antigos) e ler a dor do outro é, de algum modo, marcante. Segundo este texto do El País, que inclusivamente faz uma lista de livros com temas difíceis que vale a pena ler, o próprio Nabokov considerava que a literatura que assim não fosse nem sequer era literatura. É, no fundo, a ideia de que os livros devem incomodar. Não sou assim tão radical, mas percebo a sua opinião.
E se pensar nisso, a verdade é que realmente são os livros mais duros aqueles que recordo mais depressa. E mesmo no Quixote, se a parte cómica é imensa e inesquecível, é a dureza com que o mundo trata aquele homem bom e os valores universais que ele defende contra a maldade com que se deparava aquilo que mais lembro.
Não lemos essa literatura para sofrer. Acho que não temos, enquanto leitores, essa veia masoquista. Lemo-la porque vale a pena, porque essas dores são humanas e porque nos identificamos com elas. De algum modo, isso também nos prepara para as nossas próprias dores. Essa é a boa literatura, no fim de contas: a que fica cá dentro mesmo depois da última página.
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