terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Ai, estas cabeças!

Há uns dias, eu, a minha mãe e a minha irmã partilhámos um taxi. Conversávamos sobre esquecimentos ridículos, como aqueles em que não sabemos dos óculos que trazemos na cabeça. A minha irmã contava a última aventura: saíra de casa para ir trabalhar e voltou atrás porque não sabia do telemóvel e não o encontrava na mala. Só já em casa percebeu que ele... estivera sempre colado à sua orelha, pois estave sempre a falar ao telefone. Contou também que já teve de voltar a casa por não se lembrar se tinha ou não desligado um electrodoméstico e, chegada lá, distraiu-se a fazer outra coisa e voltou a sair sem verificar se tinha ou não desligado o tal aparelho eléctrico. 

O taxista, ouvindo aquilo tudo, resolveu partilhar a última da sua esposa. Estaria a senhora a limpar a louça molhada com um pano, quando foi interrompida. Quando quis regressar à louça, não encontrava o malfadado pano. Procurou, procurou, pôs o marido a procurar também e do pano da louça nem sinais. Veio mais tarde a ser encontrado no congelador, que a senhora terá aberto na altura da interrupção e onde pousou o pano sem mais se lembrar disso.

A minha mãe já conseguiu acreditar que o carregador do telemóvel tinha avariado por não estar começar a carregar a bateria depois de ser ligado ao telefone. Depois de maldizer a vida e a falta de sorte com os telemóveis, apercebeu-se de que não tinha ligado o carregador à tomada. O carregador estava bom: a minha mãe é que não.

Perdi a conta ao número de vezes em que, depois de sair de casa, voltei atrás para verificar se tinha trancado a porta. De todas as vezes o resultado foi uma viagem à toa porque a dita porta estava invariavelmente mais do que trancada. O tormento só acabou no dia em que o meu namorado me deu uma descompostura em que dizia que eu tinha de ser consciente a fazer as coisas e que, ao trancar a porta, não podia ir a pensar na «morte da bezerra», pois tinha de estar atenta ao que estava a fazer. Santo remédio: passei a estar mais consciente no momento de realizar acções como trancar a porta de casa, desligar aparelhos da corrente eléctrica, apagar os bicos do fogão, fechar torneiras e outras do género.

Mas, no que é menos grave, sou pessoa para perder os panos com que estou a limpar alguma coisa (o problema não é exclusivo da esposa do taxista); para não saber da caneta que tinha há dois segundos na mão; para entrar no elevador e esquecer-me do andar em que moro, carregando no botão que me leva para dois andares acima (é embaraçoso, admito); para não saber dos óculos de sol que pus em cima da cabeça; para virar a casa do avesso porque pousei o telemóvel em qualquer lado (e eu largo-o mesmo em qualquer lado) e acabar a descobri-lo na toquinha do arranhador alto dos meus gatos; para ir à cozinha e, ao entrar lá, perceber que já não sei o que fui lá fazer; para levantar-me para ir fazer «xixi» e acabar na casa de banho a fazer um rabo de cavalo, voltando ao sofá sem ter feito o que ia fazer e tudo porque me distraí com o espelho... E, confesso, quanto mais velha pior. Noto que depois dos anos em que o meu sono funcionou muito mal a coisa piorou bastante.

Contudo, apesar dos nervos momentâneos que isto dá e do stress que sentimos quando estamos longe de casa e não sabemos se desligámos o fogão (e agradeço muito, por isso, ao meu moço por me ter ensinado a ser consciente no que respeita a coisas que se podem tornar num problema sério), no fim, e quando não se trata de nada de grave, acabamos por rir com os disparates que fazemos sem darmos conta. A ciência explicará estes lapsos que nos fazem concluir que estamos «lelés da cuca». A nós resta-nos rir com eles e aprender a procurar as coisas no sítio certo: os lápis em cima das orelhas, a la merceeiro; os telemóveis dentro dos armários da cozinha ou na cama dos gatos; os panos da louça nas gavetas do frigorífico; as canetas dentro dos tachos; a carteira dentro de um sapato e as chaves de casa entaladas no segundo volume de As Mil e Uma Noites. Vão-se lá entender estas cabeças!...

4 comentários:

  1. :DD
    Acontece a todos.

    O meu namorado uma vez saiu de casa e deixou a porta encostada. Quando voltei do trabalho achei que me tinham assaltado a casa.

    Outra: Perdeu o telemóvel. Mais de seis meses depois encontrou-o. Pousado e descansado entre as costas e o assento da cadeira de secretária. NO escritório de casa!

    Para mais tarde recordar :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Essa do telemóvel é muito boa! Mas também, convenhamos que ele se escondeu muitíssimo bem!

      Estes episódios são hilariantes. Tirando a raiva que dão na altura, depois são muito risíveis. :)

      Eliminar
  2. Todos nós temos "estórias" de vida engraçadas. A minha namorada, certo dia colocou o almoço dentro de um saco de levar ao ombro. Deu uma volta a ver se não se esquecia de nada. Fechou o fecho do saco e saiu. No autocarro, sentiu que algo se mexia dentro do saco. Assustada, abriu o feco e... saltou lá de dentro o nosso gato. Agora imaginem, o autocarro cheio de pessoas e o gato assustado, a saltar para cima de uma pessoa e outra. Foi um problema até se conseguir segurar o pobre gato
    .
    * Vivências de Amor - Volúpia Incerta *
    .
    Votos de uma noite de Paz.
    .

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Oh meu Deus!!! Não consigo imaginar o alvoroço no autocarro! Eu também tenho gatos e não saio de casa sem ver onde estão os dois e sem passar revista a qualquer saco que leve. Mas também, acho que os meus gatos são tão pesados que notaria logo um ombro desequilibrado. Eheh... Maravilhoso episódio. Dava um conto.

      Eliminar