A obsolescência programada é, infelizmente, uma coisa com a qual temos de viver. Algumas empresas já foram mesmo acusadas de a praticar com os seus produtos e, no fundo, a modernidade que tanto nos deu, também nos trouxe esta prática pouco correcta que consiste em criar produtos preparados para terem um determinado prazo de durabilidade. Por exemplo, telemóveis que se sabe que durarão apenas o tempo da garantia e que, terminados esse período, deixarão de funcionar bem, levando o consumidor a procurar um substituto e, assim, a gastar dinheiro novamente.
Isto vem no seguimento da nossa hipermodernidade hiperconsumista em que produtos outrora estupidamente caros agora existem a preços relativamente acessíveis. Para algumas empresas que buscam o lucro acima de qualquer coisa, torna-se necessário (embora nada correcto, no meu entender), encurtar a duração dos produtos de forma a empurrar o consumidor novamente para a loja. Somos impelidos a gastar. Mesmo que procuremos comprar aquele computador porque é de uma marca melhor, nada nos garante que ele não comece a dar problemas passado o tempo da garantia. Aconteceu-me isso com um frigorífico e toda a gente, desde a marca até à loja onde o comprámos, me disse o mesmo: as coisas estão feitas para durar o tempo da garantia. E, de facto, o malfadado electrodoméstico durou dois anos e uns dias...
Lipovetsky escreve sobre o tema e, recentemente, também o diário EL PAÍS escreveu sobre algumas empresas sobre as quais recaíram suspeitas e acusações de práticas menos correctas no que à durabilidade dos produtos diz respeito. E se é possível atribuir um prazo de validade a muitos objectos de consumo, mais ainda o será a todos os que exigem actualizações, como telemóveis, tablets, computadores, consolas de jogos e por aí fora.
E por que falo eu hoje nesta forma de agir tão desonesta por parte de empresas que até geram lucros bem altos e que, provavelmente, até os manteriam mesmo sem dar cabo dos nossos aparelhos ao fim de algum tempo de uso? Porque acredito piamente que isto acontece e que há coincidências que dificilmente se explicarão de outra forma. Umas duas semanas antes do Natal, o meu telemóvel começou a desligar-se várias vezes ao longo do dia. Tentava abrir uma aplicação e, subitamente, o ecrã ficava preto e o telemóvel reiniciava-se ao fim de alguns minutos. Em alguns dias isto chegava a acontecer mais de cinco vezes. Comecei a ficar preocupada. O telemóvel tem pouco mais de um ano e não me dava jeito que avariasse justamente agora. Ainda me enervei um bocado com ele porque muitas vezes tentei utilizá-lo, tendo de ficar à espera de que se reiniciasse novamente. Como devem imaginar, não dava jeito nenhum. Também antes do Natal, o meu portátil ficou praticamente inutilizado. Dizia que tinha a memória cheia. Apaguei tudo quanto podia, mas o peso estava no sistema operativo que estava quase a ocupar todo o espaço do disco. Houve dois dias da semana antes do Natal em que nem sequer pude utilizar o computador: estava lento, as aplicações não abriam porque não havia espaço para elas, nem no Word conseguia escrever! Cheguei ao ponto de não conseguir sequer imprimir ou aceder ao e-mail. Para não me enervar mais, desliguei o computador e só voltei a ligá-lo hoje. Curiosamente, hoje já tudo funciona bem. Já não está lento, já não me impede de abrir as aplicações: está como sempre devia ter estado. Até já me deixa imprimir novamente sem queixar-se de falta de espaço e de erros vários. Curiosamente, também, o meu telemóvel não se desliga desde o dia 25 de Dezembro. Abro as aplicações e não se reinicia. Voltou ao normal.
Resta-me dizer-vos, embora julgue que vocês já sabem, que tanto o telemóvel como o computador são da mesma marca. Deram vários problemas durante os mesmos dias e sempre antes do Natal. Mas pararam de dá-los depois de passado o dia da troca de presentes. Será coincidência? Não sei, mas custa-me a crer nisso. Cheira-me mais à tal obsolescência programada que deve atingir níveis ridículos na quadra natalícia. É muito estranho que dois aparelhos da mesma marca passem por fases em que funcionam tão mal e, subitamente, como se fosse milagre, voltem ao normal depois da época de compras de Natal. Enfim, até pode mesmo ter sido uma infeliz coincidência, mas dá que pensar. Sabendo nós como funciona o mundo e as grandes empresas, dá mesmo que pensar.
Esta redução deliberada da vida de produtos para aumentar o consumo é horrível e é, infelizmente, uma base da economia de consumo.
ResponderEliminarO lucro sempre na mira. Sempre, sem olhar a nada nem a ninguém.
Um dos maiores exemplos que temos actualmente são os produtos da maçãzinha (também os tenho, mas pronto). Se não estou enganada a marca foi processada há poucos anos. Não vi mudanças algumas.
Além de prejuízo e obrigação para os consumidores, há evidentemente o problema da poluição e degradação do planeta. Bem real, o problema.
E para os desgraçados que pouco ou nada ganham para estes produtos nos chegarem às mãos?
Existem leis, mas são aplicadas? Não faço ideia.
Não sei se conheces Steve Cutts, faz umas ilustrações e animações bastante certeiras para o nosso tempo:
http://www.stevecutts.com/
Basta deixares as imagens passar para veres.
https://www.youtube.com/watch?v=tdz4DvDG_gg
Esta situação não é recente, nos anos 30 /40 iniciaram este processo. Vi um documentário há uns anos mas não me recordo agora do nome.
(Estou na pausa rápida para lanche e enquanto como, escrevo e lido com um ataque de soluços dos fortes não tenho muito tempo para procurar.
Se te interessar, diz-me e procuro.)