terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Lisboa

Há uns tempos, quando a Carris voltou para as mãos da Câmara Municipal de Lisboa, uma das minhas amigas Facebookianas reclamava que é tudo para Lisboa, que não se olha para o resto do país, blá blá blá. Bom, até percebo a sua irritação porque, de facto, Portugal tem muitos lugares que ficaram à sombra, isto é, de que ninguém se lembra no momento de fazer investimentos e desenvolvimentos. Mas também percebo que só pode falar assim quem não circula em Lisboa. Os lisboetas, neste momento, dariam tudo para viver noutro sítio, acreditem.

Obras em quase todas as ruas, metropolitano sempre cheio e cada vez menos frequente, Carris sempre atrasada, buracos nas ruas... Enfim, andar pela capital é um desafio à paciência de cada um de nós. E se os outros têm todo o direito de se sentirem esquecidos, em Lisboa sentimo-nos ignorados e envergonhados. Sim, só posso sentir vergonha de uma cidade, capital europeia, onde um autocarro demora a chegar o dobro do tempo que apresenta no horário afixado na paragem; de uma capital onde o metropolitano abre noticiários porque aparece pouco e cheio; de uma capital onde as máquinas de venda de cartões recarregáveis para os transportes simplesmente deixam de os vender, ficando os utentes à beira da loucura; de uma cidade que tem obras em todas as esquinas; de uma capital incapaz de escoar o seu trânsito de modo a que percorrer meia dúzia de metros não seja um atentado à paciência; de uma capital que desconhece o que é varrer as folhas caídas na calçada portuguesa, tornando-a mais escorregadia que um lago gelado nos Alpes. Os lisboetas não se sentem a viver numa capital: sentem-se numa espécie de mundo apocalíptico encaixado entre a Amadora e o Rio Tejo. Lisboa, que se quer tão turística, está a perder a capacidade de resposta relativamente aos transportes públicos, está toda esburacada e está a enlouquecer os seus habitantes que, ou definham em autocarros ou carruagens do Metro a abarrotar, ou desesperam atrás dos volantes dos automóveis particulares que se vêem gregos para atravessar a cidade. Neste momento, viver em Lisboa é mau. Não, desculpem, é péssimo e sobretudo é cansativo! É urgente deitar a mão a isto, curar a cidade, tratá-la das maldades que lhe têm feito e voltar ao tempo em que o Metro era a melhor opção para viajar; em que a Carris não demorava o dobro do esperado; em que não se faziam trezentas obras em simultâneo e em que chegar a algum lado a horas e “não amassado” não era impossível.

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