domingo, 19 de março de 2017

Detalhe

Moro num prédio alto, onde a maior parte das pessoas não se conhece. Mas este prédio tão grande e que, por ser enorme, não fomenta as relações humanas tem uma particularidade muito interessante e poética: tem um pianista.

Não sei onde ele (ou ela) vive, só sei que deve ser num andar acima do meu, pois o som parece-me vir de lá. O que sei é que de tempos a tempos, quando menos se espera, lá toca durante um bocado, parando e recomeçando (e foi assim que percebi que era um pianista in loco e não um CD). Toca música clássica e durante o tempo em que o faz o prédio parece deixar de ser só mais um para passar a ter uma identidade muito própria que, desconfio, poucos tenham desta maneira. Quando ele pára, voltamos a estar todos enfiados num edifício igual a tantos outros. Aquele pianista muda durante alguns minutos a nossa realidade e torna-a mais bonita. Parece que eu e os outros moradores entramos de repente numa soirée do século XIX, longe dos barulhos da modernidade. É, no fundo, um pequeno detalhe que enche de beleza o nosso dia. 

Bom domingo soalheiro, fiéis quixoteiros!


1 comentário:

  1. Gabo-te a vizinhança. Eu tenho um bar que passa música popular portuguesa lol

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