quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Trinta são muitos

Eu fui sempre a maior defensora da escola pública e sempre disse que, ainda que tivesse todo o dinheiro do mundo, nunca colocaria os meus filhos numa escola privada. Curiosamente, dizia-o ainda antes de dar aulas em instituições privadas. Porém, hoje começo a repensar esta minha grande certeza...
 
Fui sempre aluna da escola pública. Mais: fui aluna em escolas tidas como assustadoramente problemáticas. Quando digo onde estudei as pessoas falam logo em violência e em resultados baixos. Sim, até podem ser e ter sido escolas para lá de difíceis, mas a verdade é que considero que tive uma excelente formação nesses sítios. Cruzei-me com professores e auxiliares de grande qualidade, ainda que, naturalmente, também tenha tido o desprazer de ter docentes que me deixavam à beira de um ataque de nervos de tão maus que eram.
 
Contudo, sempre acreditei que a experiência numa escola pública ia muito além do ensino formal. Tive desde cedo consciência de que aquilo que vivia nos corredores e pátios de uma escola aberta a todos me proporcionava uma «bagagem» importante para o futuro. Hoje olho para os meus alunos e percebo que eles não vivem um terço daquilo que eu e os meus colegas viviamos, e que não são, de modo algum, tão autónomos quanto nós éramos, precisamente por causa do regime de protecção extrema em que vivem.
 
Tudo isto levou-me a ter sempre a escola pública em grande consideração. Ali aprende-se dentro e fora da sala e, por muito que tentem convencer-me do contrário, nunca saímos de uma escola privada com tanta noção da realidade como acontece com um estabelecimento de ensino público. Todavia, agora começo a achar que as coisas estão a alterar-se e a retirar à escola pública muita da sua qualidade. Quando ouço que existem turmas com trinta e cinco alunos ou que dentro da mesma turma estão alunos de quatro níveis diferentes ou mesmo quando sei que numa turma de trinta alunos, seis são jovens com necessidades educativas especiais até fico arrepiada. Mais ainda quando percebo que os pais não estão a fazer muito barulho com isto. A sensação com que fico, eu e outros docentes, é a de que se tudo isto fosse culpa dos professores, muito já se teria ouvido. Mas como não temos nada que ver com o aumento do número de alunos por turma, nem com a mistura de níveis dentro da mesma aula, nem uma mosca se ouve. A verdade, minha gente, é que ensinar vinte não é o mesmo que ensinar trinta. E estar numa turma com três dezenas de colegas quando seis deles precisam de muito acompanhamento é meio caminho andado para o insucesso. Por muito que nos tentem vender a ideia de que estas mudanças não alteram a qualidade do ensino, a verdade é que qualquer pessoa consegue perceber que estamos a falar de crianças e de jovens e que o meio onde estão inseridos para fazerem o seu processo de ensino-aprendizagem é da maior importância para que tudo corra pelo melhor. Eu andei em escolas complicadas, onde podiam dar-se grandes bulhas durante o intervalo. Ainda assim, nunca estive em turmas tão grandes e, dentro da sala de aula, as coisas iam correndo bem. Esperar que um único docente consiga controlar trinta e tal alunos dentro de uma sala é, no mínimo, risível. Mas mais risível mesmo é este silêncio perante tais coisas. Se fosse uma greve de professores, todos teriam o que opinar. Neste caso e perante tais monstruosidades, todos assobiam para o lado, levando alegremente os filhos para a escola. Não compreendo isto.
 
Se neste momento tivesse de escolher entre o privado e o público para colocar os meus filhos, talvez optasse pelo último precisamente por ser aquele que melhor mostra a realidade aos alunos, por ser aquele que, em meu entender, melhor desenvolve a inteligência emocional das crianças e dos jovens. No entanto, fá-lo-ia com um nó na garganta por saber que o meu filho seria um entre muitos que não poderão aprender tudo o que poderiam e deviam por causa das asneiras de quem só pensa em cortar nos gastos com a educação.
 

1 comentário:

  1. Apoiado em absoluto. Andei também em escolas tidas como problemáticas, mas aprendi muito e saí com uma bagagem bem maior para o futuro. Tive a infelicidade de conhecer docentes tremendamente incompetentes, mas em compensação existiram alguns que me moldaram para ser uma pessoa melhor. Continuo a achar que a escola pública é a melhor solução, mas compreendo perfeitamente quem opta pelos privados.

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