domingo, 31 de janeiro de 2016

Em busca de lugar na estante


Estes dois, em grande promoção na FNAC, procuram agora lugar nas estantes cá de casa. Como são fininhos, pode ser que a coisa se arranje facilmente. Entretanto, depois de uma semana cansativa e antes de uma que será ainda pior, este foi fim-de-semana de pijama e de leitura. Uma das leituras foi esta:


O Sr. Galileu foi realmente extraordinário. Numa época em que tudo o que desafiasse os dogmas era motivo de perseguição e castigo, ousou querer saber mais e provar que o que sabia estava correcto e ia contra aquilo que até então se pensara. O que viveu com a Inquisição é a prova de que era muito maior do que o seu tempo. Curiosamente, o seu processo foi reaberto no século XX pelo Papa João Paulo II e concluiu-se o que se intuia fortemente: que fora alvo de uma tremendíssima injustiça. 

Estas edições especiais da National Geographic são muito jeitosas, pois explicam assuntos complexos de forma a serem compreendidos por quem está muito longe de trabalhar na área. Não são baratas, mas compreende-se que devem dar bastante trabalho a fazer. Ou, pelo menos, a fazer bem.


sábado, 30 de janeiro de 2016

Quixotada com cheirinho a lavado

Quando a limpeza da casa deixa de estar nas mãos da mãezinha e passa para as nossas, começamos a prestar mais atenção a coisas que antes nem nos faziam levantar uma orelha. Agora que me calha limpar o pó e lavar o chão (entre outras coisinhas pouco porreiras), estou atenta a promoções de detergentes, ao stock de panos da louça e esfregões, à qualidade do pó que ponho na máquina da roupa, ao detergente de lavar a própria máquina da louça... Sempre disse a mim própria que, um dia, quereria lá saber dessas coisas: qualquer detergente serviria. Marca branca e barata, idealmente. Pois. Quando mudei, comecei por comprar um detergente de marca branca para o chão e acabei por ter de mudar para um de marca porque o cheiro que o primeiro deixava era... Inexistente. Nunca cheirava a lavado, mesmo depois de lavar! Com a roupa foi ao contrário: sempre detergente de uma marca bem conhecida. Aproveitava sempre as promoções. Até ali aos dias perto da passagem de ano, em que uma nova embalagem de um detergente dessa tal marca conhecida quase me avariou a máquina com a sua efervescência. Tive de ir à lojinha da esquina e comprar um de marca branca (era o que havia mais em conta) e olhem: espectacular! A minha mãe bem me tinha avisado, mas eu sou como São Tomé.

Realmente, eu bem fugi a estas coisas, mas acabei por ter de prestar-lhes atenção. Crescer também tem destas coisas. Que ridiculo.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Lady Gatinha

Cinco idas ao veterinário depois, o veredito: a Lady Gatinha tem um cálculo na bexiga. E eis por que motivo o chichi tinha sangue. Em princípio, a coisa deve desfazer-se bem com uma dieta especial (que provavelmente continuará pela sua bela vida fora). Ainda nem tem um ano e já tem de conhecer o (des)prazer das restrições alimentares. Lá se vai a ração para Bosques da Noruega da qual ela gostava tanto. Por agora ainda está com ração gastrointestinal para tratar um desarranjo causado por tantas mudanças seguidas. Está também a tromar probiótico e antibiótico. Hoje fez uma ecografia e tive o prazer de ver os rinzitos pequeninos da minha boneca peluda. Enfim... É uma pequenita sensível, dada a problemitas malucos, mas com paciência tudo que se resolve. Lady Gatinha é uma ternura e vai ficar bem em breve. 

domingo, 24 de janeiro de 2016

Domingo

Domingo de manhã. Depois de praticar a modalidade olímpica de saltar da cama para o sofá, estou entre dois gatos e enrolada numa mantinha. Mal termine esta quixotada, abro o livro. Que mais posso eu querer da vida? Ah, que haja segunda volta...

Ide votar, minha gente. Ide votar!

sábado, 23 de janeiro de 2016

Eu, a leitora lenta

Neste momento alguns poderão ter-se perguntado como raio eu, leitora compulsiva, tenho ali do lado direito da página o mesmo livro há tanto tempo. Eu explico: de facto ainda não acabei o Infância, Adolescência e Juventude, de Tolstói. Mas pelo caminho já li outros dois. E agora comecei também, aos fins de semana, a devorar a edição do Quixote realizada pela Real Academia Espanhola, portanto o Tolstói, que não está esquecido, está parado. 

E, já que estamos numa de livros, vamos lá ao que me veio ao pensamento hoje: daqui a uns meses teremos a Feira do Livro de Lisboa. Yeeeeeeeeeeeeeeeeeeey! (Sim, eu conto mesmo os meses para isso...)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Ora, vamos a contas

Já aqui vos disse que Lady Gatinha arranjou uma cistite (em princípio será isso) e anda a ser medicada. Bom, não contávamos com esta situação este mês e até tinhamos reservado o mês de Janeiro para ser o da poupança, já que Novembro e Dezembro foram o terror para as finanças pessoais.

Com a consulta de segunda e as análises de terça, entre ração especial, saquetas e outras coisas, foram mais de cem euros. Mas como um mal nunca vem só, a madame entendeu que havia de odiar o diabo da ração da Royal Canin para o aparelho urinário. Não a come. E o Sr. Gato também não ficou muito fã. Ora hoje, dia de ir com o gatarrão à vacina anual (supostamente seria a única despesa em veterinário do mês de Janeiro), tivemos de trazer outro saco de ração, desta vez da Hill’s, para ver se já tinha mais sorte. Bom, entre vacina, novo saco de ração, mais umas saquetas e areia, foram-se mais cento e alguns euros. Convenhamos que em quatro dias é obra!


Na próxima semana a urina da bicha volta a ir para análise. Provavelmente mais uns trocos. E como vai ter de passar uns tempos com esta ração, deverei precisar de mais um saco nas próximas semanas. A coisa promete.

Posto isto tudo, acho que o mínimo era as despesas com veterinário (já nem falo na alimentação diária) terem alguma dedução no IRS. Afinal, temos os animais, são membros da família, preocupamo-nos com eles, gastamos dinheiro a alimentá-los e a cuidar bem deles e, no fim de contas, as facturas, por chorudas que sejam, não servem para nada. Podia haver algum tipo de dedução, por pequeno que fosse. Chego a sentir-me estúpida com as facturas de veterinário: tantas e tão gordas e só servem para o Estado receber os seus impostos. Eu, que pago, não beneficio um caracol com o assunto. 

Entretanto, os gatinhos ali estão. Acho que já lhes nasceram uns pêlos de ouro...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A Menina QUERIA Isto, Mas Já Tem IV


A menina queria isto, mas ele acabou de chegar cá a casa. É um livro grande, o que é bom quando se trata da obra de um autor que não desilude e que já cá não está para escrever mais livros. E como um bom livro nunca deve vir só, este também chegou hoje:


Tinha apenas um volume pequenito com o famoso conto de Robert Louis Stevenson, mas não tinha grande fé em tal edição, pelo que resolvi aproveitar o grande desconto da FNAC, usar um dos vales recebidos no Natal e comprar esta edição da Assírio & Alvim que, além do conto "O Estranho Caso do Dr. Jekill e do Sr. Hide”, traz outros dois muito promissores. Enfim, foi um dia em grande para minha biblioteca.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Calem a barda!

São vinte e três horas e quinze minutos. A filha do vizinho do lado, menina para ter uns onze ou doze anos, está em casa a fazer karaoke da canção "Chuva", da Marisa, uma música facílima de cantar, como toda a gente sabe. Já cantou outras e teve aplausos. 

Por menos o bardo da aldeia gaulesa de Astérix acabou amarrado e amordaçado em todos os livros.

Já passaram três anos

Hoje, a cada vez que abria a lição no quadro e escrevia a data, alguma coisa soava na minha cabeça, mas não sabia o quê. Quando voltava para casa percebi: a dezanove de janeiro de dois mil e treze perdi a minha avó, depois de uma luta muito injusta contra o cancro. Nunca foi uma luta de igual para igual, pois a vantagem foi sempre dele. Nunca, desde que se soube doente, houve alguma esperança real para ela, só mesmo aquela que têm até ao fim as pessoas que amam alguém que está muito doente e que não acreditam que algum dia desaparecerá.

Ainda que a soubesse doente, mantive até ao fim a esperança. Afinal, como poderia a minha avó morrer se o mundo não funcionaria sem ela? Quem agregaria a família? Quem sentaria todos à mesa na Páscoa? No fim de contas, a esperança virou nada e a avó morreu. O mundo funcionou sem ela. Isso mesmo: funcionou. Não fez mais do que o básico: girar e girar e girar. Depois, tudo o que construiu em vida pareceu perder significado para muitos e a família acabou por desunir-se. Não que antes da sua partida não houvesse um ou outro elemento que preferisse outro caminho, mas depois da sua morte, muitos laços perderam o sentido, várias bocas se abriram para dizer o que não deve ser dito. Enfim, aquilo que a avó, não só enquanto avó, mas também enquanto mãe e sogra, nos ensinou acabou por perder-se. Três anos depois, nada é melhor e a falta dela ainda se sente. Muito.

Não houve, nestes três anos, um único dia em que não me lembrasse dela. Posso jurar que me lembrei dela TODOS os dias. Nem que fosse apenas um lampejo de memória, ela esteve comigo. Outras vezes, a recordação era maior, mais concreta. Fosse como fosse, foram três anos em que o telefone não mais serviu para falar com a avó. Em que os domingos deixaram de ser o dia de saber como estava a avó, lá tão longe na sua aldeia.

Há uns meses, a minha mãe pediu-me para copiar a agenda do seu telemóvel para um telemóvel novo. Ao fazê-lo, encontrei na lista o nome “Avó”. Sem lhe dizer nada, perguntei-me se deveria apagar aquele número ou deixá-lo. Optei pela segunda hipótese. A minha avó morreu e aquele número de telefone não fará soar nenhuma campaínha na sua casa. Nunca mais ouvirei o “Está?” que dizia sempre que atendia uma chamada. Contudo, não consegui apagar o número. Lá ficou, ainda que nunca mais sirva para nada na agenda da minha mãe.

É incrível que um número que já nos disse tanto, nos sirva para tão pouco num determinado momento. Foi das coisas que mais estranhei depois da sua morte: não a saber à distância de um telefonema. Dar por perdida a rotina domingueira que consistia em ouvir a minhã mãe a falar com a sua mãe, trocando novidades ou conversa rotineira que parecia inútil, mas que era tudo (só o percebi depois, quando já não mais se podia telefonar).

Antes de escrever esta quixotada, fui ler o que escrevi sobre a minha avó dias depois da sua morte. Não me lembrava de alguns pormenores. Não me recordava de ter dito à minha avó, na última vez que falei com ela, que ainda subiríamos a correr a Serra da Marofa, como noutros tempos. Mas depois de reler o que escrevi, recordei isso e muito mais. O bom e o mau. A última vez que a vi viva. O funeral. E já passaram três anos.

Não escrevi aqui hoje um texto em que a avó fosse vocativo e em que me dirigisse a ela tratando-a por tu como se ela me estivesse a ler. Muitos fazem isso e é estúpido. A minha avó não vai ler isto; ninguém que tenha partido lê o que escrevemos depois (e mesmo que pudesse ler, a minha avó sabia lá o que era um blogue ou internet!). Mas, não fazendo esse tipo de conversa, não deixo de lamentar o muito que ela não chegou a saber. Depois dela, saí de casa dos meus pais, montei a minha própria casa, tentei fazer sopa e reparei que devia ter estado mais atenta ao que ela e a minha mãe tinham para ensinar-me porque a minha sopa é francamente má. Arranjei dois gatos que são amorosos, deixando cair a ideia de ter um Pastor Alemão (mas a vontade ainda cá está...). Continuo a dar aulas, mas com menos entusiasmo, mais desilusão e vontade de mudar de profissão. Multipliquei a minha biblioteca e agora tenho uma espécie de monstro de papel na divisão do lado. Voltei a Viana, mas não voltei à aldeia dela. Continuo a adorar o Dom Quixote (e agora tenho uma edição crítica que é fabulosa). Não deixei de ser uma apaixonada por chá sem açúcar. Ando a torcer pelo Sampaio da Nóvoa para presidente, embora apostasse que para a avó o melhor fosse o Marcelo. Enfim, nada de novo debaixo do sol, no fundo. 

Passaram três anos, ficou um vazio imenso e a certeza de que muitas vezes fomos outra coisa que não aquilo que a avó gostaria que fôssemos. O que eu nunca deixei de ser foi uma neta com saudades e com a certeza infinda de que com ela perdemos a ‘cola’ que nos unia. Muito do que era a nossa realidade familiar entre tios, tias, primos e primas, desapareceu naquela tarde de Janeiro em que a avô esperou pelos seus dois netos do coração para deixar de viver. O que eu nunca disse a ninguém é que a saudade é a maior que alguma vez senti. É diária e dói mesmo muito.

Um sexto sentido

Se tiver para os meus filhos, no futuro, a mesma atenção e intuição que tenho para os gatos, então os pobres terão uma excelente mãe. 

A nossa Lady Gatinha começou a fazer o seu chichizito na banheira. Logo isso foi o suficiente para começar a preocupar-me. Depois comecei a estranhar a cor da urina (ainda que continue sem saber muito bem de que cor é a urina de um gato, já que o Sr. Gato nunca fez nada fora do sítio). Liguei para a veterinária, ela lá me aconselhou e disse-me para lhe levar a menina na segunda-feira. Lá foi a pequena e já veio para casa com um anti-inflamatório para lhe aliviar o ardor que pudesse sentir ao urinar e umas saquetas especiais para problemas urinários. Saí de lá também com a missão de recolher urina e de a levar hoje para análise. Fiz isso e confirmou-se: havia sangue (e muito) na urina. Mais um medicamento, ração especial para o aparelho urinário e mais umas saquetas de comida húmida próprias para problemas como o dela. As contas, entre ontem e hoje, já ultrapassaram uma centena de euros, mas de cima de mim saiu uma tonelada de peso em preocupação. Sim, porque uma vez que os animais não se queixam como nós, acabamos por deixar passar mais tempo do que deveríamos até ir realmente ver se se passa alguma coisa. A intuição dizia-me que sim, que alguma coisa não estava bem. De facto, tinha razão.

A pequena já está a ser tratada. Adora as suas saquetas novas (sabor a “chicken”, uma maravilha), não se importa de comer o pozinho que tenho de lhe misturar nas saquetas, nem de tomar o anti-inflamatório (chateia-se mais por, para isso, ter de ser pegada ao colo). Agora tem de habituar-se à ração nova (que, por extensão, o será para o gato também, que isto de conseguir que cada um perceba o que lhe cabe é o inferno). A dose de miminhos, que já era brutal, aumentou também. 

Ter animais e gostar deles é isto: viver desejando que estejam o melhor possível, mesmo que isso nos saía bastante do bolso.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Das bibliotecas privadas e de Dom Quixotes

No blogue "Horas Extraordinárias" li há dias um post sobre um artigo de Pacheco Pereira sobre o fim das bibliotecas privadas. Entretanto fui procurar o texto em questão e tenho de assinar por baixo das palavras do autor. De facto, e pelo que vou vendo, as bibliotecas privadas estão em extinção entre os mais jovens. É normalíssimo pessoas da minha idade, um pouco mais velhas ou mais novas, não terem livros em casa ou, tendo, nunca os abrirem. Já falei no blogue sobre isso, sobre como me choca a falta de leitura nas pessoas da minha geração, sobretudo entre aqueles com quem partilho a profissão. Continuo a não compreender como possam existir professores que passam um ano inteiro sem ler um livro (e que ainda acham estranho que haja alguém que continuamente carregue e leia novos livros, como se estes leitores fossem bichos do mato a viver num tempo fora do tempo).

Diz José Pacheco Pereira que, apesar de poder ser por agora apenas uma impressão, cada vez menos os jovens querem ter livros em casa e, por isso, as bibliotecas privadas vão desaparecendo. Mesmo quando herdam livros, muitos ficam sem saber o que fazer com eles. Diz ainda que por vezes também sucede existirem as tais bibliotecas privadas, mas "mortas". Como? É fácil: uma biblioteca, digo eu, deve ser mais do que um armazém de livros, pois para isso qualquer caixote ou estante esquecida a um canto servem. Para estar viva tem de ser lida e constantemente enriquecida com novos títulos. É muito fácil ficar com os livros do avô ou da avó e nunca olhar para eles, mais do que se olha para um quadro na parece. Os livros são de outra ordem, parece-me: pedem mãos que lhes toquem, olhos que os devorem, colos onde se esqueçam depois de terem sido lidos durante algumas horas.

Infelizmente, não dispomos hoje do tempo que, como diz Pacheco Pereira, há quarenta anos se dedicava à leitura. Tomara eu encontrar duas horas seguidas de um dia normal para poder ler apenas! A vida mudou e hoje as solicitações são imensas: os livros acabam por sofrer com essa falta de tempo. Ainda assim, todos conseguimos, não as duas horas para ler Balzac, mas algum tempo diário para ler bons livros, para nos apropriarmos do que de bom nos foi deixado por outros no que às letras diz respeito.

Quanto a mim, cumpro a minha parte: vou lendo e comprando, vou folheando, vou vendendo o que já não me interessa manter e vou cuidando dos meus livros. Serei, como disse, bicho raro, principalmente porque para muitos, ter tantos livros aos trinta anos é estranho. Não me importa, pois faço aquilo de que gosto. Preocupa-me, no entanto, que em tempo de selfies, YouTube, Facebook e outros que tais, a leitura tenha ficado tão esquecida para tanta gente. Agora o importante é estar ligado a tudo e todos, ler todos os posts que vão aparecendo, comentar tudo (até o que não merece comentários) e ir lendo o que a internet vai sugerindo. Lê-se muito, sim, mas isso não é ler um livro, não é ginasticar o cérebro com um enredo, com uma acção que nos obrigue a pensar, a tomar posições. Não é apreciar a qualidade estética de um autor, perceber que um texto é bom porque o autor recorre a este ou àquele processo narrativo, porque usa este ou aquele recurso expressivo para obter a imagem que deseja passar ao leitor. Para muitos isto é pouco, mas a verdade é que este "pouco" faz-nos tão bem. Mesmo num mundo cheio de ecrãs que nos chamam a toda a hora com o seu canto de sereia, regressar ao papel, ler com a concentração que ele nos permite, conhecer novos heróis, novas histórias, outros tempos, passados ou futuros, imaginações alheias, é delicioso. É inacreditável que a vida seja tão curta e que tantos passem por ela sem apreciarem devidamente este presente glorioso que nos oferece. Mais extraordinário ainda é que nunca percebam a falta que a leitura de um bom livro faz e que ainda vejam como estranho quem faz o contrário. Nós, os Dom Quixotes dos livros e das bibliotecas privadas, assobiaremos para o lado e continuaremos a nossa viagem por séculos passados, dando pulinhos a realidades distantes da nossa, lutando contra os moinhos de vento que agitam furiosamente braços que não reconhecem o peso de um bom livro.

Lar

Os dois felinitos cá de casa acordam muito cedo e miam, miam, miam, miam, não porque tenham fome, mas porque querem que o dia comece, querem brincar e matar saudades das suas pessoas. Hoje fizeram-no novamente: um coro imenso à porta do quarto. Parecia que sabiam perfeitamente que hoje é domingo e, portanto, dia de comer uma bela saqueta de comida húmida. Lá me levantei aos trambolhões, preparei os dois pratinhos enquanto o felino-tigre se roçava em mim e tentava chegar ao prato antes de estar pronto. Servi o pequeno-almoço aos malandros e voltei para a cama, onde jiboiarei até à hora de almoço.

É na cama que estou agora. O dia lá fora está frio e cinzento, mas aqui dentro está muito quentinho e bonito: aninhados em mim estão dois gatinhos de barriguinha cheia e felizes. Dormem a sono solto, os bandidos. E eu, ensonada, deleito-me a olhar para eles. 

sábado, 16 de janeiro de 2016

Em busca do livro odiado

Na quinta-feira passada, começou a sair com a revista Sábado uma edição portuguesa do Mein Kampf, o livro escrito por Hitler. Essa pérola esteve até agora sob a lei dos direitos de autor, mas tendo passado setenta anos sobre a morte (?) do tarado que a escreveu, pode agora ser reeditada sem que as editoras tenham de pagar a ninguém por aquilo. A edição tem dois volumes, estando o último para sair com a revista na próxima semana. 

No dia em que a publicação foi para as bancas, passei por várias papelarias e quiosques no caminho para casa depois do trabalho. Logo na primeira disseram-me que já tinham vendido os livros todos. Pensei logo que a coisa ia ser difícil de conseguir: o livro de um louco perigoso a ser vendido por dois euros e noventa o volume, depois de ter estado dezenas de anos sem ser reeditado (nem sei se alguma vez chegou a ser publicado em Portugal e em português), é curiosidade suficiente para fazê-lo desaparecer. Mas bom bom foi na segunda papelaria, onde a senhora olhou para mim após o meu pedido, pôs uma cara que era um misto de pena / nojo / repulsa enquanto me dizia que nem tinha recebido aquilo. Deu para perceber perfeitamente que fora uma decisão da papelaria nem sequer receber o livro. Já terem recebido a revista que tinha o asqueroso autor na capa já tinha sido uma sorte, parece-me. 

Bem, lá continuei a minha demanda e, à quarta tentativa, consegui. Novamente, recebi um olhar esquisito quando pedi o livro (tive o cuidado de pedir “o livro que saiu com a Sábado” e não “o livro do Hitler” para a coisa não parecer tão má. Mas o senhor lá me apareceu com o volume (aposto que foi lavar as mãos a seguir). Pelo sim pelo não, pedi-lhe para guardar-me o segundo e último volume na próxima semana.

Ora bem, com o livro na mão fiquei a pensar, tendo em conta as caretas que vi quando pedia o livro nas papelarias e quiosques, no que imaginariam as pessoas ao verem alguém que queria comprar o livro de um fanático responsável pela morte de seis milhões de pessoas, pela criação de uma máquina de morte imensa, pela tentativa de aniquilar um povo. De facto, pode parecer estranho que alguém no seu perfeito juízo queira ler as palavras deste monstro, mas note-se que conhecimento é poder e que o facto de ler o que ele escreveu não faz de mim uma nazi empedernida, desejosa de ir para a rua defender as suas ideias estupidamente perigosas. Seja com o livro do Hitler (provavelmente o livro mais maldito, mais odiado de todos os tempos), ou com outro qualquer que fira a humanidade, ler o que lá está serve para tentar perceber-se a génese da horribilidade acontecida no século XX. E basta ler um bocadinho, como fiz depois de jantar, para ter uma ideia de quanto aquela mente era já retorcida muito antes de fazer o que fez. Li umas dez páginas, nas quais Hitler fala da superioridade da raça ariana e da inferioridade do povo judeu e é absolutamente chocante que alguém acreditasse naquilo (mais chocante ainda se recordarmos que ele acreditava... e que os muitos milhares de pessoas que o seguiam cegamente também). 

Ler um livro implica sempre espírito crítico, seja ele um pateta romance cor-de-rosa, um bom clássico ou um livro pleno de ideias perigosas que foram historicamente postas em prática com as consequências que todos conhecemos. Importa que, além de ler, nos afastemos o suficiente para perceber o que temos em mãos e como devemos posicionar-nos perante tal informação. Ler o Mein Kampf não faz de mim nazi ou apreciadora da prosa hitleriana, assim como ler a Bíblia não faz de mim obrigatoriamente uma católica praticante e tal como ler o Código do Processo Penal não faz de mim jurista, advogada ou juíza. Transforma-me numa leitora, em alguém que quer saber mais, nem que seja para depois formar a sua opinião sobre algum tema, nem que seja para poder perceber melhor o que faz parte da história da humanidade ou mesmo aquilo que ainda hoje nos rodeia. Numa época em que assistimos ao tímido regresso (ou já não tão tímido assim) de ideias racistas e profundamente intolerantes, de um nacionalismo assustador, saber o que aconteceu no passado, onde começou e como terminou é fulcral. Como disse acima e ainda que seja frase batida, conhecimento é poder e se há quem leia disparates como os que o Hitler ou outros como ele escreveram e aplauda tais ideias execráveis, haverá sempre quem como eu leia para saber e falar com conhecimento e com justificação  na ponta da língua sobre um texto que lavou cérebros, mesmo sendo lixo em papel.

É todo um mundo de possibilidades

Descobri muito recentemente que há um restaurante chinês/japonês em Lisboa que faz entregas na minha zona. Ou seja: pode estar um frio brutal que a boa da vaca com cogumelos aparece-me à porta. E podia jurar que quando vi o menino das entregas até me apercebi de um halo de luz em torno dele, qual anjo caído à minha porta. Agora, o meu moço ataca sushi (e diz que é bom) e eu vilipendio frango com amêndoas, crepes, vaca com cogumelos e quejandos que nem uma menina valente. É maravilhoso e uma óptima alternativa às pizzas naqueles dias em que não apetece cozinhar. Acho que muitos restaurantes ganhariam com o serviço de delivery, mas infelizmente, além das pizzas, são manifestamente poucos os que se lançam à estrada para entregar comida ao domicílio. Até percebo que seja uma aposta complicada de fazer por parte dos restaurantes: são mais ordenados para pagar, é combustível que fica no caminho, contudo talvez em alguns casos acabe por ser lucrativo. No caso deste restaurante, impõe limite mínimo para fazer entregas, ou seja, só tiram o rabinho do restaurante se souberem que vão ganhar pelo menos doze euros na zona de Lisboa e o dobro fora dela. Se mantêm este serviço é porque é rentável, portanto gostava muuuuito que outros se lançassem nesta aventura. Não é que encomende comida todos os dias, é mesmo pela questão da variedade.

A propósito: hoje fiz um bacalhau à brás espectacular. Para o jantar... o estafeta vem a caminho. Eheh...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Luto livresco

É um problema que merece ser reconhecido pela sociedade. Aquilo que apelido de “luto livresco” tira o sono a muito boa gente e, por isso, não deve passar sem que se lhe dê a devida atenção. Euzinha estou, neste momento, a passar por uma fase dessas e é terrível.

Mas afinal o que é isto de “luto livresco”? Basicamente são, na minha cabeça, aqueles dias que se seguem ao final da leitura de um livro muito, muito, muito bom. Depois de dias inteiros a ler um livro extraordinário, vemo-nos, repentinamente, sem a sua novidade e sem a sua companhia. Temos de reaprender a viver sem aquela história tão boa que bem nos encheu as medidas. A seguir à leitura de um livro excelente, tudo parece manifestamente pouco. Só se consegue seleccionar na prateleira um substituto depois desta fase de luto e de despedida de personagens e histórias que bem nos encheram as medidas.

Aconteceu-me isto agora com o livro Em Breve Tudo Será Mistério e Cinza, de Alberto A. Reis. Curiosamente, este foi o livro de estreia deste autor brasileiro que é, originalmente, da área da saúde. Todavia, isso não o impediu de escrever um dos livros mais cativantes que me passaram sob a vista. A história central é a de um casal francês que na década de vinte do século XIX viaja até ao Brasil para procurar ouro e pedras preciosas nas região diamantina. Arranjarão escravos (alguns deles com um papel decisivo na história) e instalar-se-ão naquele lugar, procurando a fortuna que em França lhes escapara por entre os dedos. Não vos conto o fim, mas partilho que a história vai muito além deste casal. Assistimos a lutas entre conservadores e liberais, à criação de um tribunal de júri, ao nascimento de um jornal e, aquilo que me pareceu ainda mais importante, à situação abominável vivida pelos escravos. Se houve livro que me fez pensar na escravatura, foi este. A descrição da vida destes seres humanos tratados como objectos ao serviço de supostos senhores superiores é dolorosa. No meio dos muitos momentos em que a história se torna risível, surgem estas bofetadas. Com um tempo que já está longe do nosso é muito fácil desvalorizar aquilo que é uma mancha tremenda na história da humanidade. Felizmente, livros como este ensinam-nos o que não sabíamos e que devemos saber para não repetir.

Enfim, as personagens são tantas, tão diferentes, tão bem construídas; a história tem tantos pormenores, tantos avanços e recuos (sendo quase sempre imprevisível) que vale cada página de leitura. Foi dos poucos livros que não consegui largar durante muito tempo enquanto o lia. Foi uma experiência de leitura fabulosa que aconselho a todos. Para primeiro livro, este autor colocou a fasquia muito alta. Fico ansiosa para que escreva outro tão bom ou melhor do que este. Entretanto, cá vou tentanto sobreviver ao meu luto livresco. Isto merecia algum tipo de tratamento. Que remédio arranjam para este ENORME problema?

domingo, 10 de janeiro de 2016

É muito bom, mas...

As festas são maravilhosas, mas o pós-quadra-festiva é uma chatice de todo o tamanho. Mas vamos por partes.

Eu, fanática assumida, adoro o meu aniversário e ainda gosto mais do Natal. Da passagem de ano gosto menos, mas a coisa leva-se. Por isso, e porque sei que tudo passa a correr, o meu lema é divertir-me com a preparação destas festas precisamente por saber que no fim de contas as horas voarão e chegaremos rapidamente ao dia seguinte. Por essa razão, conto os dias para o meu aniversário, imagino como será a comemoração, vou preparando tudo, vou saboreando tudo com calma. Com o Natal o mesmo: começo a pensar no Natal mal começa o ano lectivo e depois de fazer anos entro oficialmente em contagem decrescente para a minha festa favorita de todo o ano. Por cá, até a árvore de Natal foi feita antes do dia oito de Dezembro, de modo a garantir que ficaria montada por mais tempo do que seria ‘normal’. Só foi desmontada hoje. O moço lá se dedicou a essa odiosa tarefa que é a de aumentar a sala em alguns metros quadrados, encaixotando uma boa dose de alegria.  Depois de tudo arrumado, percebemos que ficaram de fora uns quantos bonequitos que ajudaram a enfeitar a casa nesta quadra natalícia. Isso e as meias penduradas (as mesmas onde apareceram umas latinhas de atum...). Ou seja: depois da arrumação, ainda tropeçamos em itens natalícios que resistem a ser arrumados. Mais: quando fui fazer o almoço percebi que a toalha da mesa da cozinha ainda é de Natal! Mais uma que resistiu ao furacão "arrumação da quadra natalícia”. 

Contudo, não ficamos por aqui. A confusão que sobra depois destas festas familiares que sabem tão bem chega a dar vontade de rir. Por exemplo: há pratos e travessas e copos que só vêem a luz do dia durante estas ocasiões. Depois de serem utilizados e quando deixam de ser precisos, têm de ser lavadinhos e regressar ao recanto obscuro do armário onde dormirão nos restantes dias do ano. Pois, mas até que isso aconteça, andam de bancada em bancada à espera de que um de nós se farte, pegue naquela porcaria e a enfie no respectivo lugar. Tenho ali uma base que leva quatro tigelinhas para frutos secos que ainda consegue o incrível prodígio de não ter todas as quatro tacinhas lavadas de modo a serem arrumadas. Note-se que hoje o ano novo já leva dez dias. E como é que isso é possível? Não sei. Palavra que não percebi que raio de fenómeno foi este que fez com que quatro míseras tigelas de frutos secos parecessem ganhar o dom da ubiquidade, mas na versão chata da coisa.

E os presentes? Minha gente, adoro receber e dar presentes, mas depois ando eternidades até arrumá-los. Namoro-os, namoro-os, namoro-os e vou deixando que fiquem por ali. É como a louça, mas na versão presente. Com os livros até percebo, pois arrumá-los implica arranjar lugar nas estantes e isso já não é fácil. Nada fácil... Se me tivessem dado o tal Bosques da Noruega que pedi...

Portanto é isto: aliada à tristeza de ver passada uma quadra festiva que foi tão boa, fica a sensação de que a casa nunca mais vai estar arrumadinha. Vou andar a encontrar coisinhas verdes do pinheiro artificial mesmo que destrua o aspirador ao poder de passá-lo nos tapetes. Vou encontrar louças desnecessárias até Junho, provavelmente. Vou andar até Fevereiro, quase de certeza, para devolver ao armário a toalha de mesa com motivos natalícios. A estrela que enfeitou a porta de entrada e os bonequitos que resistiram à fúria arrumadora do moço vão procurar novo lugar nas próximas semanas e, provavelmente, vão ficar tão bem arrumados que em Dezembro, quando precisar deles outra vez, não vão aparecer. E é isto, minha gente. É muito bom, mas... quando acaba, custa um bocadinho.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Ano novo, vício velho

O vício já é antigo e está para durar. Li o Quixote em 2004, já lá vão doze anitos e a quantidade de livros, estatuetas e coisas que tais relacionadas com a obra-prima de Cervantes tem crescido desde então. Hoje chegaram-me às mãos estas duas estuetas. São dois D. Quixotes, cada um mais bonito do que o outro. Isto na mesma semana em que recebi a edição do Quixote mais completa de sempre, feita pela Real Academia Espanhola. O meu coração não aguenta tanta emoção!


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"

Nos últimos meses tenho sentido cada vez mais vontade de abandonar o ensino. Não porque não goste de ser professora. A verdade é que gosto de entrar numa sala e dar uma aula, mostrar aos alunos à minha frente alguma coisa que lhes era desconhecida até então. Gosto de ver a evolução pela qual passam desde o “não percebo nada” até ao “agora já sei”.

A minha enorme vontade de seguir por outro caminho deve-se à forma como os professores são tratados, à enorme carga de trabalho burocrático que têm, às pressões que sentem, às portas que se lhes fecham, ao respeito que merecem e que perdem sem se perceber porquê. Alguns dizem-me para procurar outro lugar e eu agora respondo que quero outro lugar, mas noutra profissão.

Em tempos fui livreira e fui muito feliz nessa altura. Tenho a certeza de que se voltasse a fazê-lo, inclusivamente num espaço meu, seria muitíssimo feliz. Bem sei que as livrarias hoje são os piores negócios do mundo, que as grandes empresas engoliram as pequenas lojas de comércio livreiro. Sei disso tudo, mas ainda assim era o que queria. Tenho a ideia e todos os dias ela tem batido com mais força no interior da minha cabeça. Não será tempo de prestar-lhe atenção?

Fiz trinta anos no ano passado e não vejo, honestamente, futuro para mim na profissão que escolhi para a vida. Não concordo com o que se passa nas escolas agora, não entendo que o professor seja visto como o pior dos males. Nada disto me entra na cabeça. Por isso, por maior que seja o amor à profissão, é impossível não sentir uma enorme frustração e tristeza por aquilo em que o ensino tem vindo a tornar-se. Ensinar continua a ser o melhor do mundo. O resto é puramente exasperante.

Por isso tenho vivido os últimos vezes com duas ou três ideias a martelarem-me por dentro: “tenta isto”, “tenta aquilo”. A frequência destes pensamentos aumenta cada vez que o dia corre mal e isso tem acontecido muito amiúde. Pode ser neura, pode ser do tempo cinzento ou mesmo das últimas alterações feitas na área da educação, mas parece-me que devo ouvir-me melhor. Talvez desta vez tenha razão.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

E se a Wook desafia...

...está desafiado! 

A Wook publicou na sua página do Facebook um desafio engraçado para este ano que agora se iniciou: dá-nos uma lista que serve como roteiro de leituras. Vale o que vale, como todas as listas, mas não deixa de consistir numa ajuda para todos aqueles que, como eu, nunca sabem o que ler a seguir (pior ainda desde que ultrapassei determinado número de volumes e deixei de saber ao certo o que tenho para ler). Assim, sou menina para aceitar o desafio e lançar-me nisto logo que termine os dois livros que ando a ler.

Deixo-vos a proposta da Wook. Se vos servir para alguma coisa, melhor. Mas podem sempre inventar o vosso próprio roteiro de leituras.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Los Reyes

Um dos presentes que o meu moço me havia destinado pelo Natal não chegou a tempo. Para que vejam, só chegou hoje. E o que foi? Foi nada mais nada menos que a maior e mais completa edição do Quixote alguma vez publicada, elaborada pela Real Academia Espanhola e lançada em 2015, ano em que se comemorou o quarto centenário da publicação da segunda parte da obra-prima cervantina. 

Esta edição vira o texto do avesso. Em dois volumes enormes guardados numa caixa, o enorme trabalho realizado pela admirável Real Academia Espanhola divide-se entre o texto, pejadinho de notas de rodapé que explicam tudo (mas mesmo tudo) o que importa explicar; e num igualmente grande volume onde constam estudos, bibliografias imensas, imagens que explicam muito sobre o tempo da narrativa (hoje tão distante do nosso), e mais coisitas. Ainda tem leituras feitas por autores consagrados como Alberto Manguel, Martín de Riquer, Javier Marías, entre muitos outros. Ou seja: para amantes desta obra, este livro é TUDO. Está cá tudo o que interessa e o que permite estudar este grande clássico da literatura.

A edição não chegou a tempo do Natal, mas vê-la soube muito bem na mesma. Numa altura em que nós, portugueses, já abrimos os presentes todos, cheirou a Reyes cá por casa. Obrigada, moço: és o melhor.


sábado, 2 de janeiro de 2016

Viver com um tigre

O Sr. Gato é tudo menos um gato. Ele tem muito de cão, de urso e de felino de grande porte. Consegue ser o mais meigo e o mais terrível dos bichanos. É inteligente que dói, mas só usa essa genialidade para conseguir o que quer, custe o que custar, doa a quem doer.

Ora, o Sr. Gato sabe que se saltar para cima de pessoas que estão adormecidas, vai acordá-las. E acordar pessoas, principalmente os "doninhos", significa festinhas, comida, brincadeira, estores abertos, luz e todo um dia inteiro para fazer aquilo de que os gatos gostam. O problema é que o Sr. Gato é um portento de seis quilos. Ontem acordámos estremunhados com o gemido da desgraçada da Lady Gatinha que, adormecida entre os donos, teve o azar de levar com o "bazuca" em cima. Hoje, não contente com o feito de ontem, o Sr. Gato entendeu que sete e dez da manhã é uma boa hora para fazer levantar o mundo: saltou para cima da cama, mas ou mediu mal o salto, ou fez de propósito, usou as costas do dono como parede de escalada. Resultado: uns arranhões jeitosos a meio de um soninho gostoso que acabou mal. Sr. Gato foi conduzido por mim para fora do quarto, sendo acompanhado por uma inocente Lady Gatinha (os dois não se podem separar, senão miam, miam, miam...). 

Pior para mim, pois o dono agora mostra-me os arranhões nas costas como se de marcas de guerra se tratassem, pretendendo recordar-me que o seu sofrimento justifica uma estadia no sofá, enquanto eu limpo a areia, mudo a água, deito comida, dou o malte... 

Enfim, deixo-vos um vídeo do Simon's Cat que ilustra bem as manhãs vividas cá em casa. Hoje foi mais ou menos isto.