terça-feira, 27 de maio de 2014

O alarme

É oficial: não tenho um gato, mas sim um relógio grande e peludo que mia agudamente a horas certas. Esta bola de pelo felina aprendeu desde o primeiro dia cá em casa que eu acordo às sete e, de alguma forma, registou isso na sua cabeça de alfinete. O passo seguinte foi assumir que podia passar a ser o meu despertador. E eis que todos os dias, sábados e domingos incluídos, grande bola de pêlo (que ontem fez sete pesados meses) mia desalmadamente à porta do quarto quando chega a hora de me levantar. Consegue o prodígio de o fazer momentos antes do despertador, o que me prova que realmente este tipo felpudo tem um relógio de pulso que eu ainda não lhe encontrei. Ora, há dias em que posso dormir mais um pouco, mas o doutor não liga a essas picuinhices: sete da manhã são sete da manhã e não há cá mariquices de hoje poder ficar na cama e amanhã não. Grita alvorada todos os dias e eu que me desenrasque ou que meta o sono no bolso. 

Depois de me acordar e cheio de uma enorme sensação de dever cumprido, mal me vê, atira-se ao chão a ronronar com os decibeis um pouco alterados: eis que chega o momento da recompensa na forma de festinhas que envolvem pés ou mãos, conforme me apeteça baixar-me ou não. É a loucura!

Mas melhora: em alguns dias, depois de madrugar para fazer-me madrugar também, pequeno saco de pelo vai comigo para a casa de banho e enquanto espalho a base... Adormece aninhado no lavatório ou, por vezes, no bidé. É lindo de se ver: um gato cheio de si que sabe ter desempenhado bem a função de arrancar a pastelona da cama a horas, vai depois dormir mesmo debaixo dos olhos dela para sítios tão desconfortáveis quanto louças de casa de banho. E eu, claro, olho para ele com um misto de "É tão fofinho." e de "Ranhoso.". É o que temos.

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