sábado, 8 de fevereiro de 2014

Saramago na Porto Editora

Desde que me tenho por gente que recordo as capas "cor de casca de ovo" dos livros do Saramago na Caminho. Aquele tom e aquelas capas tão minimalistas já eram uma imagem de marca e a coisa resultava. Depois passaram para aquele amarelão, já na Leya, se não me engano, e nunca gostei muito. Acho que as capas anteriores resultavam melhor. E pronto: o que sei dizer sobre a presença de Saramago na Caminho, casamento longo e cheio de frutos, e depois já no centro de um grupo editorial poderosíssimo, acaba aqui.

Soubemos no final do mês passado que o nosso Nobel da literatura deixará a editora que o publicou durante mais de trinta euros e soubemos, depois, que a sua obra passará para outro grande grupo editorial: a Porto Editora.

A primeira coisa em que pensei quando soube que a Caminho, ou, se preferirem, a Leya, havia perdido o contrato com as herdeiras do Saramago foi: como raio consegue uma editora deixar escapar o José Saramago?! Custou-me a perceber porque, ainda que todos os autores mereçam ser bem tratados e que a sua obra seja disponibilizada da melhor forma, o Saramago é o escritor português que mais se destacou no final do século XX e que, por isso, recebeu o maior prémio literário que existe e o único Nobel para a literatura de língua portuguesa. Além disso, acredito que venda bastante, tendo em conta que tem uma obra sua (não tão barata assim) no programa da disciplina de Português. Enfim, mistérios.

Segundo um artigo da revista Sábado, o problema deveu-se a uma quebra nas vendas que deixou a Pilar preocupada. Perante esse facto, contactou a filha do escritor, Violante, e juntas decidiram procurar uma nova editora para a vasta obra do autor. A escolha caiu, então, sobre a Porto Editora e eu acho bem. Do pouco que percebo, acho que a chancela que acolhesse os livros de Saramago não podia ser pequena: pelo contrário. Neste momento, só uma pessoa muito curta de vistas não se apercebeu de que a Porto Editora já ultrapassou o domínio dos livros escolares para abranger o campo literário de forma muito coerente. Basta uma visita a uma feira do livro no Parque Eduardo VII para ser visível a diferença entre a Leya e a Porto Editora e o modo como esta última conseguiu colocar no seu catálogo uma série de autores portugueses e estrangeiros que interessam ao público leitor. Por exemplo, o catálogo de grande qualidade da Assírio & Alvim (pleno de poesia) faz parte da Porto Editora, assim como os muito bem feitos livros da Sextante ou os ainda melhores volumes da Quetzal, sempre com capas admiravelmente bonitas e bem cuidadas. Para outros gostos existem, ainda, volumes publicados pela Bertrand e pela própria Porto Editora com volumes mais cor-de-rosa ou até policiais.

Na Leya também existe muita variedade e há muitos grandes autores a serem publicados por editoras deste grupo editorial. Contudo, parece-me (e atenção que é a minha opinião e não um facto comprovado) que os preços são um pouco mais elevados e os descontos, por exemplo em feira, menores. Parece-me, ainda, julgando pelos pavilhões que a Leya, desde que existe, tem feito na Feira do Livro, que a ideia do que é um livro e de como pensam os leitores é muito diferende entre os dois grupos. Desde a primeira vez em que vi aquela praça fechada da Leya, pequena muitas vezes para a afluência que tem, que achei que a ideia por trás do que se quer do mercado livreiro estava tristemente a mudar. No ano que passou, também a Porto Editora fez a sua praça na Feira do Livro: mais ampla e parecida com o espírito que a feira sempre teve, diga-se, circulava-se forma agradável por entre os pavilhões. Gastei ali uns valentes euros.

Parece-me, portanto, que o Saramago fica bem entregue. Aliás, estou ansiosa por ver em que resultará este novo casamento. Parece que virá de lá um texto inédito do autor. Aguardemos com expectativa.

Nota: A Leya perdeu, ainda, o contrato com o Sousa Tavares e com o João Tordo. Tendo em conta as muitas editoras fantásticas que se juntaram ao grupo Leya (Teorema, Caminho, Dom Quixote...), seria bom que parassem e pensassem no que pode estar a acontecer. Os livros não são tijolos nem peças de roupa. Vender uns não é como vender outros. Mas isso sou eu que acho, que não percebo nada do assunto.

Por fim, acrescento apenas uma coisa: as pequenas editoras também merecem não uma, mas muitas palavras de apreço por conseguirem manter-se à tona no meio destas batalhas entre titãs. Temos pequenas editoras fenomenais, com catálogos espantosos, capazes de fazer livros lindíssimos e muito cuidados. Temos uma Cavalo de Ferro que me deixa à beira da pobreza todos os anos, uma Aletheia, uma Antígona, uma Relógio D'Água que deixa loucos os amantes de boa literatura, uma Cotovia que acaba o que a Relógio D'Água começou. Enfim, temos ainda muito por onde escolher no que aos livros diz respeito. Vale a pena aproveitar e ler, ler muito.

1 comentário:

  1. Obrigada, Paula. :) Também não sou entendida na matéria, mas como é uma área de que gosto, vou prestando alguma atenção. Quando a Leya aglomerou todas as editoras que a compõem, apercebi-me de algumas mudanças no mercado livreiro e, sou sincera, não gostei. Basta passar na feira do livro de Lisboa para percebermos como funciona esse grupo que, quer queiramos quer não, aglomerou algumas excelentes casas editoriais. De momento parece-me que a Porto Editora, mesmo sendo também um grupo grande e composto por várias editoras, parece-me trabalhar de maneira diferente e, de certa forma, mais ao encontro daquilo que se espera que seja este sector. Nesta quixotada não falei sobre isso, mas as diferenças notam-se até no que aos livros escolares diz respeito. Quando preciso de alguma coisa, a Porto Editora responde sempre de forma mais célere e simples do que a Leya. Mas, enfim, são experiências. Outras pessoas poderão ver a questão de outra maneira.

    Obrigada pelo comentário. :) Bom fim de semana.

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