quarta-feira, 18 de julho de 2012

Vale tudo?...

Há pouco a SIC exibiu uma reportagem especial que mostrava o funcionamento de um conhecido bar de alterne em Portugal. No depoimento de uma das moças que lá trabalhavam, ela contou que o filho, que agora frequenta o sexto ano, foi um dia interpelado por um colega que lhe disse que tinha visto a mãe dele na televisão e que ela era uma senhora de má vida (com quatro letras). O filho teve, segundo a mãe aparentou, uma reacção merecedora de orgulho. Perante a acusação do colega, terá apontado para várias das peças de roupa que envergava e pronunciado os nomes das muitas marcas a que pertenciam, perguntando depois ao miúdo que o interpelara «E as tuas roupas de que marca são?...»

Não comento a profissão da senhora nem a existência de tais casas que acho que apenas existem porque há neste mundo homens que, por alguma razão, acham que precisam delas. Mas, como pessoa que lida com miúdos do sexto ano de escolaridade e com outros mais novos e mais velhos, choca-me a resposta da criança. E choca-me o orgulho da mãe perante tal resposta. Compreendo que o miúdo tenha tentado, com tal alusão às marcas fantásticas que a mãe podia comprar, aniquilar um suposto «inimigo» que o espicaçava. Mas, ainda assim, parece-me uma resposta chocante, talvez por tranformar aqueles objectos que a mãe, pelo trabalho que desempenha, pode comprar em justificações suficientes para ela o fazer e, ainda, por, parece-me, acabar por minorizar as outras mães que (por não terem ou não quererem) não dão o mesmo aos seus filhos. Que terá dito à mãe, naquele dia, o miúdo que não usava roupas de marca?... Enfim, vocês entenderão isto provavelmente de outra forma. A mim fez-me muita confusão e não me parece que seja, de todo, um motivo de orgulho.

4 comentários:

  1. Deve ser daquelas mães que gosta de dinheiro fácil. Acredito que haja algumas que o fazem por necessidade, mas muitas delas é só pelo facto de alcançarem rapidamente bens materiais caros, que com um trabalho dito normal não conseguiriam.

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    1. A mim chocou-me o enorme sorriso que a senhora exibia ao dizer que se o filho queria umas calças ela dizia «Toma lá», se queria uma PSP ela dizia «Toma lá», se queria um skate, ela dizia «Toma lá»... A relação daquelas pessoas e principalmente do miúdo com o dinheiro e com as coisas que ele compra chocou-me, principalmente por ser uma criança. Independentemente da profissão, mesmo quem tem dinheiro para esbanjar assim tem de ver que está a lidar com crianças e deve ter muito cuidado com o que lhes ensina sobre os bens materiais. A resposta que o miúdo deu assusta-me a sério porque me soou a um «Está bem, a minha mãe é isso, mas eu tenho roupa super cara e tu és um desgraçado que não te vestes nas lojas fixes e caras porque a tua mãe não ganha que chegue para isso.» Isto choca-me. E muito.

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    2. Filha,

      Que a senhora tenha lá o seu trabalho não temos nada que ver com isso, verdade? Mas quer-se dizer: até podia não ter trabalho nenhum, mas ao menos falava como deve ser e com outro ar. Nem um frequentador entrevistado comunicava como deve ser. Olhe que isto... Com franqueza! Dá vontade de ir à dita localidade e dar um pouco de literacia à senhora. Fiquei danado, han! DANADO!!!
      Olhe, como isto já vai tarde, por aqui me fico, sim?
      Que mais posso acrescentar?
      Apenas que me despeço com a amizade do costume, recordando - sempre - o saudoso engenheiro Sousa Veloso. Deixo, no entanto, uma pequena advertência: se algum dia achar que os seus alunos não sabem falar, lembre-se do que ouviu hoje.

      Com saudações iletradas,
      Filho

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  2. eu não vi a reportagem, mas é de ficar chocada.. como se o dinheiro pudesse comprar tudo e como se isso fosse mais importante e a forma como é banalizadas. Eu nunca tive tudo o que quis e valorizo as coisas quando as consigo ter, não está em causa o trabalho da senhora.. enfim. tal como tu estou indignada!

    Umas boas noites. :p

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